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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Gaudí




Arquitetura inovadora do artista catalão é hoje símbolo da badalada cidade espanhola


Entre fins do século 19 e início do 20, Antoni Gaudí (1852-1926) projetou e construiu casas, edifícios e templos que se tornaram marcos da história da arquitetura. Inspirado nas leis da natureza, ele transformou suas construções em novos modelos – coloridos e cheios de formas sinuosas. Baseado na cultura de manuseio de ferro dos artesãos espanhóis, forjou grades e portões que eram verdadeiras esculturas utilitárias.
O criativo artista não se limitava à construção em si: também desenhava móveis, maçanetas e cada detalhe das casas que projetava. “Nem só engenheiro, nem só artista, ele soube combinar estética e funcionalidade, suporte estrutural e expressividade ornamental”, afirma Luciano Migliaccio, professor de história da arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. “Gaudí era um construtor, mas um construtor que se movimentava como escultor”, diz o professor.
Em torno do gênio havia uma Barcelona em ebulição: cidade portuária marcada pela cultura mediterrânea e introdutora, em solo espanhol, das novas correntes artísticas européias (como o estilo art nouveau, umas das referências mais evidentes na obra de Gaudí). Além disso, a capital da Catalunha era já no final do século 19 o grande pólo industrial da Espanha, cuja ascendente burguesia empenhou-se em promover a cultura regional catalã, diferenciando-se do resto do país. Foi assim que Gaudí pôde contar com o mecenato de burgueses – como Eusebi Güell –, que viram em sua arquitetura mais um dos meios de se opor à política centralizadora da Espanha. E foi nesse cenário de intensa troca de idéias com a Europa, irrefreável ascensão burguesa e promoção da identidade catalã que Barcelona entrou para a história como o grande palco da genialidade arquitetônica de Gaudí.

Saiba mais

Antoni Gaudí, Xavier Güell, Martins Fontes, 1994

 

Certo por linhas tortas
As dez maiores obras do mestre
1. A cripta da Colônia Güell (1898-1914)
Na colônia operária de Eusebi Güell, o artista deveria construir uma igreja, mas só concluiu a cripta. Irregular, ela tem arcos e colunas inclinadas feitas de basalto, ladrilho e pedra. No teto, ornamentos de cerâmica representam símbolos cristãos como a cruz e o peixe. Gaudí chegou a mudar a forma de uma escada para salvar uma árvore. “Posso fazer uma escada em três semanas, mas seriam necessários 20 anos para fazer um pinheiro”, disse.
2. Pavilhões da Chácara Güell (1884-1887)
Os pavilhões da portaria e das estrebarias da chácara que a família Güell mantinha em Pedralbes, nos arredores de Barcelona, foram as primeiras construções feitas para o mecenas Eusebi. Os “Pabellones Güell” ficaram famosos pelo seu “portão de dragão”, uma escultura de ferro desenhada pelo arquiteto e confeccionada em oficinas barcelonesas – que é considerada a ancestral direta de toda escultura em ferro feita no século 20. O trabalho em parceria com os artesãos da Catalunha mostra como Gaudí valorizava as tradições técnicas locais.Portão principal da chácara
3. Torre Bellesguard (1900-1905)
Sob as ruínas do palácio do rei Martin, o Humano (1396-1410), último monarca da dinastia catalã, Gaudí construiu o edifício Bellesguard. A obra teve um grande valor simbólico para o arquiteto – estava relacionada com a história da perda de autonomia da Catalunha em relação ao reino de Castela. O nome Bellesguard (“Bela Vista”) refere-se à localização do terreno, de onde se tinha uma visão panorâmica da cidade de Barcelona.A hidden attraction opens for Gaudí fans
4. Casa Vicens (1883-1888)
Primeira obra importante de Gaudí, a Casa Vicens foi construída a pedido do fabricante de azulejos Manuel Vicens – e é um exemplo de como o artista reinventou a arquitetura muçulmana tão enraizada na Espanha. A construção é cheia de reproduções dos elementos naturais do local. Os azulejos, desenhados pelo próprio Gaudí, retratam os cravos que cresciam no terreno. A grade de ferro que separa a casa da rua tomou como modelo as folhas de palmito do sítio da construção.
Arquiteto ou escultor?
Para Gaudí, não havia grande diferença entre essas artes
5. Parque Güell (1900-1914)
Numa área de 20 hectares na “Montanha Pelada” de Barcelona, Gaudí construiu o Parque Güell, sua obra mais importante. Concebido como uma cidade planejada – que fracassou como empreendimento imobiliário –, o parque (hoje o mais visitado de Barcelona) ostenta aquelas que se tornariam as características de Gaudí: o revestimento das superfícies com cacos de cerâmica e o gosto pelas formas curvas. Na época do ecologicamente correto, vale lembrar a reciclagem envolvida na confecção dos mosaicos: eles eram feitos de cerâmicas que eramdejetos de fábricas.Parque Guell em Barcelona
6. La Pedrera (1906-1912)
No Paseo de Gracia, famosa avenida cujas calçadas foram ornamentadas por Gaudí, está o edifício de apartamentos La Pedrera, última obra civil do escultor. Construída por causa do matrimônio do empresário Pere Milà, a chamada ”casa Milà” tem fachada ondulante e esculturas de ferro que funcionam como grades das sacadas. Na cobertura do prédio – um terraço aberto a visitas turísticas – dispõem-se chaminés e tubos de circulação de ar de formas humanas.

7. Casa Batlló (1904-1907)
Localizada também no Paseo de Gracia, a Casa Batlló é considerada uma das maiores expressões da renovação gaudiana. Reformada a pedido do industrial Josep Batlló Casanovas, a casa exibe uma fachada revestida de cerâmica e vidros coloridos. As formas sinuosas caracterizam a parte baixa da entrada, onde foram esculpidas as pedras arenosas da colina barcelonesa de Montjuïc – está aí uma das características mais marcantes do arquiteto: o emprego de materiais de construção de sua terra natal.
8. Palácio Güell (1886-1889)
Gaudí também construiu um palácio a pedido de Eusebi Güell. As chaminés do edifício são revestidas de pedaços de azulejos coloridos, outra “marca registrada” do trabalho do arquiteto-escultor. Para o historiador espanhol Juan-Eduardo Cirlot, a extravagância de Gaudí expressava a nova linguagem da burguesia emergente: “Esse palácio-metáfora ascende, como Güell, do escuro sótão da pobreza à festa colorida do telhado que se alça até o sol áureo da riqueza”.
9. Casa Calvet (1898-1904)
Com a Casa Calvet, Gaudí construiu pela primeira vez um edifício de apartamentos de aluguel entre prédios contíguos. Feita de pedra lascada, sua fachada ostenta os bustos dos santos patronos de Vilassar, povoado natal de Calvet, proprietário da residência. Nas laterais da porta principal, dois carretéis de linha de tear, são uma alusão às indústrias têxteis de Calvet. E a argola da porta que serve de campanhia, feita de ferro fundido, tem a forma de um percevejo.
10. A Sagrada Família
Em 1883, com apenas 31 anos, Gaudí assumiu a construção do templo da Sagrada Família, depois da renúncia de Francisco de Paula del Villar, autor do projeto inicial. A tarefa marcaria para sempre seu destino – a partir de 1914, Gaudí instalou-se num ateliê anexo à obra para trabalhar nela de forma ininterrupta, abandonando todo trabalho leigo. Mais de um século depois de seu início, a construção da Sagrada Família ainda hoje desafia arquitetos do mundo todo, empenhados na sua conclusão.

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