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segunda-feira, 7 de julho de 2014


Aqüífero Guarani
  

O Aquífero Guarani é a segunda maior reserva subterrânea de água doce do mundo, sendo ultrapassado apenas pelo o Aquífero Alter do Chão. Contudo, e o maior que atinge uma área transnacional imensa. Está localizado na região centro-leste da América do Sul, entre 12º e 35º de latitude sul e entre 47º e 65º de longitude oeste e ocupa uma área de 1,2 milhões de Km², estendendo-se pelo Brasil (840.000l Km²), Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina (255.000 Km²), nas bacias do rio Paraná e do Chaco-Paraná.
O Aquífero Guarani consiste primariamente de sedimentos arenosos que, depositados por processos eólicos durante o período Triássico (há aproximadamente 220 milhões de anos), foram retrabalhados pela ação química da água, pela temperatura e pela pressão e se transformaram em uma rocha sedimentar chamada arenito.
Essa rocha é muito permeável e assim permite a acumulação de água no seu interior. Mais de 90% da área total do aquífero é recoberta por extrusões de basalto, rocha ígnea e de baixa permeabilidade, depositada durante o período Cretáceo na fase do vulcanismo fissural. O basalto age sobre o Aquífero Guarani como um aquitardo, diminuindo sua a infiltração de água e dificultando seu subsequente recarregamento, mas também o isola da zona mais superficial e porosa do solo, evitando a evaporação e evapotranspiração da água nele contida.
A maioria de suas rochas sedimentares pertencentes à Bacia Sedimentar do Paraná. Das rochas que compõem o aquífero, a mais importante é o arenito Botucatu. Este arenito foi depositado em ambiente desértico, o que explica as características que faz dele um ótimo reservatório de água: Os grãos sedimentares que o constituem são de uma grande homogeneidade, havendo  pouco material fino (matriz) entre os mesmos. Isto confere a este arenito alta porosidade e alta permeabilidade. Sua espessura média é de cerca de 100 metros, havendo locais aonde chega a 130 metros. À medida que caminhamos para as partes centrais desta Bacia, isto é para o interior dos estados do sul, este arenito vai ficando cada vez mais profundo, tendo a lhe recobrir espessas camadas de rochas vulcânicas basálticas, e outros camadas de arenitos mais recentes. 
O termo aquífero Guarani foi proposto há alguns anos, numa reunião de pesquisadores de várias universidades de países do cone sul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), pelo geólogo Danilo Antón em uma conversa informal com os colegas Jorge Montaño Xavier e Ernani Francisco da Rosa Filho, geólogos da Universidad de la Republica do Uruguai e Universidade Federal do Paraná, respectivamente, em 1994, e aprovado com o respaldo dos quatro países em uma reunião em Curitiba, em maio de 1996. Foi  uma forma de unificar a nomenclatura de um sistema aquífero comum a todos eles, e em homenagem à nação dos índios guaranis, que habitavam a área de sua abrangência. Anteriormente, este aquífero era conhecido aqui no Brasil pelo nome de Botucatu, pelo fato de que a principal camada de rocha que o compõe ser um arenito de origem eólica,  reconhecido e descrito pela primeira vez  no município de Botucatu, estado de São Paulo.
Por ser um aquífero de extensão continental com característica confinada, muitas vezes jorrante, sua dinâmica ainda é pouco conhecida.
Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total), abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A população atual do domínio de ocorrência do aquífero é estimada em quinze milhões de habitantes.
Este aquífero é responsável por cerca de 80 % do total da água acumulada na Bacia sedimentar do Paraná. Como é muito permeável os poços ali perfurados apresentam vazão que podem ultrapassar os 500 m³/h, com um rebaixamento de somente 150 metros do nível d'água no poço antes do bombeamento.
Para se ter uma idéia do tamanho da reserva, ela tem capacidade para abastecer, de forma sustentável, cerca de 400 milhões de habitantes, com 43 trilhões de metros cúbicos de água doce por ano.
Aquífero Guarani constitui-se em uma importante reserva estratégica para o abastecimento da população, para o desenvolvimento das atividades econômicas e do lazer. Sua recarga natural anual (principalmente pelas chuvas) é de 160 Km³/ano, sendo que desta, 40 Km³/ano constitui o potencial explorável sem riscos para o sistema aqüífero.
Em regiões onde o aquífero está a mais de 1000 metros de profundidade a água pode atingir temperaturas de até 70 graus Celsius, sendo muito útil em alguns processos industriais, hospitais, no combate à geada e para fins de recreação e lazer.
Qualidade das Águas Subterrâneas
As águas em geral são de boa qualidade para o abastecimento público e outros usos, sendo que em sua porção confinada, os poços têm cerca de 1.500 m de profundidade e podem produzir vazões superiores a 700 m³/h.
A combinação da qualidade da água ser, regra geral, adequada para consumo humano, com o fato de o aqüífero apresentar boa proteção contra os agentes de poluição que afetam rapidamente as águas dos rios e outros mananciais de água de superfície, aliado ao fato de haver uma possibilidade de captação nos locais onde ocorrem as demandas e serem grandes as suas reservas de água, faz com que o Aqüífero Guarani seja o manancial mais econômico, social e flexível para abastecimento do consumo humano na área.
Enquanto a água atravessa os poros do subsolo e das rochas ela vai sendo filtrada, e também passa por um serie de processos fisioquímicos (perdendo a radiação que poderia conter, removendo as sujeiras, neutralizando seu pH) e bacteriológicos (eliminando microorganismos que não conseguem viver em condições subterrâneas), se tornando mais pura e segura para o consumo humano. Quanto mais profunda estiver a água, significa que percorreu mais percurso, tendo melhor qualidade. Sua profundidade também e garantia de pureza quando analisamos que a cada 100 metros de profundidade, a água aquece 3 graus Celsius.
As águas presentes no aqüífero são sempre mais vantajosas do que as águas dos rios, pois elas são filtradas naturalmente, se tornando mais puras, dispensa tratamento, não sofrem muita influencia as alterações climáticas, possuem temperatura constante, estão longe do alcanço da poluição e contaminação, e podem ser usadas na medida necessária.
Seu teor médio de sólidos totais dissolvidos ser cerca de 200 mg/L, torna suas águas ainda melhores para o consumo humano. Contudo alguns poços perfurados no Estado do Paraná forneceram água com teor elevado de flúor (12 mg/L) o que a torna inviável para uso humano, mas tudo indica que esta não é a química predominante da água do aqüífero.
Prevenção e cuidados

Estudos têm revelado que as águas do aquífero Guarani ainda estão livres de contaminação. Contudo, o fato do alto consumo descontrolado da água, especialistas alertam que o Aqüífero Guarani deve ser supervisionado por programas ambientais que previnam sua poluição e esgotamento.
Outro cuidado necessário por parte de uma política governamental é evitar que fertilizantes químicos e pesticidas utilizados na agricultura dessa região contaminem os lençóis freáticos. Uma das maneiras para que as águas do aqüífero se contaminem e pelo fato de que parte de seus afloramentos estão em locais de ricos de contaminação por agrotóxicos, pois as águas da superfície, em afloramentos, atinge as menores profundidades do aqüífero.
Uma das propostas apresentadas no Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Aqüífero Guarani - organizado pelas nações em que ele está presente - proíbe a agricultura que usa fertilizantes e pesticidas, como a da cana-de-açúcar, nos locais de afloramentos, como na região de Botucatu, em São Paulo. Podem ainda ser criadas áreas de restrição para novas perfurações.
Outros perigos que ameaçam o aqüífero são:
O uso descontrolado e excessivo, principalmente em locais que apresentam poço artesiano jorrante. Um exemplo de desperdício se encontra no rio Tiete, onde cerca de 4 milhões de litros de água potável e jogado por dia.
Poços abandonados são outra ameaça para o aqüífero. Todo poço, que atinja ou não o  aquífero Guarani, e deixe de ser usado, deve ser convenientemente selado para evitar a entrada direta de águas poluídas.
Todo poço deve ser bem vedado para evitar a entrada de qualquer contaminação.
Segundo especialistas em hidrologia, a quantidade de água doce seria capaz de abastecer a população mundial por mais de cem anos. Numa possível falta de água doce no futuro, este recurso será de extrema importância para a humanidade.

Importância

Os aqüíferos são muito importantes por vários aspectos. Eles mantêm o nível da água da superfície estável, pois absorvem o excesso das águas pluviais em épocas de chuvas fortes. A localidade dos aqüíferos não permite a evaporação da água, sendo assim um ótimo local de armazenamento de água doce. Em regiões muito secas como na África, o armazenamento de águas nos aqüíferos e muito importante, pois um terço da água extraída de reservatórios todo ano perde-se por evaporação.
A quantidade de água encontrada em diferentes aqüíferos não são as mesmas. Sua localidade define sua taxa de recarga, podendo ser de forma lenta ou mais regular. Outro fator que influencia na qualidade da água e a composição das rochas e a temperatura do aqüífero.
Com todas as vantagens da água ser mais potável quanto mais profundo o aqüífero tem influencia em um fator muito importante para a sociedade. Quanto mais profundo, mais caro seu processo de captação e bombeamento.
Os aqüíferos podem suprir diversas funções:
·      Função de produção: corresponde à sua função mais tradicional de produção de água para o consumo humano, industrial ou irrigação.
·      Função de estocagem e regularização: utilização do aqüífero para estocar excedentes de água que ocorrem durante as enchentes dos rios, correspondentes à capacidade máxima das estações de tratamento durante os períodos de demanda baixa, ou referentes ao reuso de efluentes domésticos e/ ou industriais.
·      Função de filtro: corresponde à utilização da capacidade filtrante e de depuração bio-geoquímica do maciço natural permeável. Para isso, são implantados poços a distâncias adequadas de rios perenes, lagoas, lagos ou reservatórios, para extrair água naturalmente clarificada e purificada, reduzindo substancialmente os custos dos processos convencionais de tratamento.
·      Função ambiental: necessidade de estudos e cuidados com a qualidade da água, que passou a ser alterada em função da utilização intensa de insumos químicos nas áreas urbanas, indústrias e nas atividades agrícolas. Esta necessidade de uma abordagem multidisciplinar integrada formou a geohidrologia ambiental.
·      Função transporte: o aqüífero é utilizado como um sistema de transporte de água entre zonas de recarga artificial ou natural e áreas de extração excessiva.
·      Função estratégica: a grande quantidade de água contida no aqüífero serve como uma reserva estratégica para épocas de pouca ou nenhuma chuva. O gerenciamento integrado das águas superficiais e subterrâneas de áreas metropolitanas, inclusive mediante práticas de recarga artificial com excedentes da capacidade das estações de tratamento, os quais ocorrem durante os períodos de menor consumo, com infiltração de águas pluviais e esgotos tratados, originam grandes volumes hídricos. Esses poderão ser bombeados para atender o consumo essencial nos picos sazonais de demanda, nos períodos de escassez relativa e em situações de emergência resultantes de acidentes naturais, como avalanches, enchentes e outros tipos de acidentes que reduzem a capacidade do sistema básico de água da metrópole em questão.
·      Função energética: utilização de água subterrânea aquecida pelo gradiente geotermal como fonte de energia elétrica ou termal.

Exploração

O país que mais explora o Aqüífero Guarani e o Brasil, abastecendo mais de 300 cidades, e ainda exportando água engarrafada para o Oriente Médio. O Uruguai tem 135 poços de abastecimento publico, destinados a exploração termal. No Paraguai, 200 poços são destinados a uso humano. Já na Argentina, há exploração de cinco perfurações termais de água doce e uma de água salgada.
No Estado de São Paulo, o Guarani é explorado por mais de 1000 poços, que ocupam cerca de 17.000 km2. Esta área é a mais vulnerável e deve ser objeto de programas de planejamento e gestão ambiental permanentes para se evitar a contaminação da água subterrânea e sobre-exploração do aqüífero com o consequente rebaixamento do lençol freático e o impacto nos corpos d'água superficiais.
A produção de energia é outro aspecto funcional que merece destaque. Nos Estados Unidos, China, Japão, Rússia, a utilização das águas subterrâneas naturalmente aquecidas como fonte de energia térmica tem sido eficazmente empregada. Apesar do Sistema Aquífero Guarani ser considerado de baixa entalpia, ou seja, as temperaturas máximas atingidas (70ºC) não são suficientes para gerar processos rentáveis de produção de energia elétrica, uma possível aplicação seria a produção de metano a partir de resíduos líquidos e sólidos. Neste processo, intermediado por bactérias, a manutenção da temperatura na faixa de 30ºC a 50ºC é fundamental. Regiões nas quais a criação de animais produza grande quantidade de rejeitos orgânicos, como o oeste catarinense, são áreas potenciais para implementação deste aproveitamento.
A água e o bem mais precioso do mundo, sem ele não há vida. O esgotamento dos lençóis freáticos é uma das grandes crises invisíveis, mas ameaçadoras que o planeta enfrenta, com todas as suas implicações de queda na oferta de alimentos, miséria humana, fome, conflitos e guerra.
Estudos de hidrologia mostram que a quantidade de água doce presente no Aqüífero Guarani seria capaz de abastecer a população mundial por mais de cem anos. Numa possível falta de água doce no futuro, este recurso será de extrema importância para a humanidade. Assim, devemos proteger o Aqüífero Guarani, e devemos usar-lo de forma consciente, para que ele possa suprir necessidades futuras a todo humanidade.


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