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segunda-feira, 26 de maio de 2014



“A escrita cênica não é apenas um adjunto, um ponto de apoio,

não se limita a um dado visual, é verbo, é conceito.”

(CRISTIANO CEZARINO RODRIGUES)



A cenografia contemporânea ultrapassou os limites do caixa cênica italiana e desenvolveu uma relação intrínseca com a arquitetura teatral. Novos processos se iniciam a partir do século XX e discussões acerca dos limites impostos pela rigidez do palco italiano e da relação passiva entre cena e público fazem eclodir os limites da caixa preta, do próprio teatro e do tempo à medida que espaços outros começam a ser utilizados em encenações teatrais contemporâneas.

O que dá norte a essa expansão do lugar teatral é a pesquisa por novas formas de percepção do espetáculo pelo ator que encena e também pelo espectador que ultrapassam o limite do texto e se incorporam ao espaço e as sensações produzidas a partir dele, ou seja, os processos de recepção se darão de maneira muito mais ampla e incorporarão uma série de signos escondidos pela estaticidade e pelo ilusionismo do palco italiano. Uma questão importante quando se sai do edifício teatral institucionalizado é a utilização da carga semântica do espaço dentro do contexto do espetáculo e a partir daí a ressignificação do próprio espaço a partir do espetáculo, ou seja, a arquitetura deixa de ser passiva, deixa a posição de abrigo para se transformar em elemento particular e ativo da encenação.

É dentro desse contexto que o grupo paulista Teatro da Vertigem faz suas experiências desde meados da década de 90, saindo do campo pictórico e caminhando ao campo espacial. As características dos espaços cênicos utilizados estão completamente ligadas ao eixo conceitual e a teatralidade do grupo.

A primeira peça da Trilogia Bíblica, O Paraíso Perdido (1992) teve como “locação” a Igreja de Santa Ifigênia no centro da cidade de São Paulo, segundo Cristiano Cezarino Rodrigues em sua tese “O Espaço do Jogo: espaço cênico teatro contemporâneo”:



“A peça fala de Deus, de queda, do sentimento de perda

 do Paraíso, constitui-se em uma espécie de relato,

de (re)vivência do mito da queda e do sentimento de

 nostalgia de um outro tempo, de harmonias mais plenas.

 Em Paraíso Perdido, o Vertigem busca oferecer um momento,

 fundado em uma temporalidade outra, em que o espectador

 vivencie uma experiência concreta, material, de

 reencantamento com o mundo, qualquer que seja seu grau de fé;

 além disso, a peça fala sobre a religação com o

 sagrado – um tempo mítico, e simultaneamente mundano

é trabalhado pela encenação. A inscrição do homem no profano e sua

consciência  do sagrado são, permanentemente, apresentadas

durante o percurso de um dos personagens, o Anjo Caído,

apontando para a idéia de que a consciência da queda é o caminho

 para a própria redenção.”




                                              O Paraíso Perdido – Teatro da Vertigem




                                              O Paraíso Perdido – Teatro da Vertigem



                                                     O Paraíso Perdido – Teatro da Vertigem

                                              

                                              O Paraíso Perdido – Teatro da Vertigem


                                
                                         O Paraíso Perdido – Teatro da Vertigem



 
Referências:

RODRIGUES, C. C.. O espaço do jogo: espaço cênico teatro contemporâneo. Ano de Obtenção: 2008.
 
RODRIGUES, C. C.. Teatro da Vertigem e a cenografia do campo expandido. Arquitextos (São Paulo. Online), v. 092, p. 092.03, 2008.
 
LIMA, E. F. W. .Espaço e teatro: do edifício teatral a cidade como palco, Rio de Janeiro: Sete Letras, FAPERJ, 2008.

Imagens retiradas do site: www.teatrodavertigem.com.br  
 

 

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