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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Filme:

RECOMENDO:

O AMANTE DA RAINHA – O Iluminismo 

 Ao resgatar a história de Johann Friedrich Struensee, O Amante da Rainha expõe a introdução das ideias do Iluminismo na Dinamarca no final do século XVIII, os seus efeitos na história do País e a influência que se espalharia sobre toda a Europa
John Struensee (Mads Mikkelsen), o amante;  Cristiano VII (Mikkel Boe Folgsgaard), o Rei; e Caroline Mathilde (Alicia Vikinder), a Rainha: personagens reais que fundamentaram o Iluminismo no Século XVIII
John Struensee (Mads Mikkelsen), o amante; Cristiano VII (Mikkel Boe Folgsgaard), o Rei; e Caroline Mathilde (Alicia Vikinder), a Rainha: personagens reais que fundamentaram o Iluminismo no Século XVIII
A história de amor, ousadia e traição que gerou a introdução das ideias iluministas na Dinamarca do século XVIII pode ser conferida, por completo, no drama histórico O Amante da Rainha, de Nikolaj Arcel, ganhador do Urso de Prata no Festival de Berlim e representante da Dinamarca ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013.
Para manter a fidelidade do fato histórico, o diretor e roteirista Nikojal Arcel, 41, leu pelo menos sete livros – entre eles o aclamado The Royal Phsysician’s Visit (2002), do sueco Per Olov Enqvist – sobre o triângulo amoroso envolvendo Cristiano VII (1748-1808), o suposto rei-louco da Dinamarca, sua esposa, a princesa britânica Caroline Matilde (1751-75), e o médico alemão Johan Friedrich Struensee (1737–72) -, mas centrou a adaptação em Prinsesse af blodet(Princesa do Sangue, inédito no Brasil), obra do historiador Bodil Steensen-Leth.
Mudanças históricas
Simplesmente notável e fascinante, O Amante da Rainha centra o seu enredo no triângulo amoroso, mas em momento algum relega ao segundo plano como as ideias iluministas saíram das mentes e obras do inglês John Locke (1632-1704), e dos franceses Denis Diderot (1713-84), François Marie Arouet (1694-1778), o Voltaire, e Jean-Jacques Rousseau (1712-78), entre outros, foram instauradas e promoveram profundas mudanças sociais na sociedade dinamarquesa.
Para saber mais sobre os filósofos Iluministas, > acesse aqui <
John Locke, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot: livre pensadores iluministas
John Locke, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot: livre pensadores iluministas
Para um melhor entendimento do filme, entenda-se o iluminismo, conforme definição do Dicionário OnLine de Português, como uma Organização, movimento, centrado na intelectualidade, que se baseia na utilização da ciência e da razão para indagar os preceitos filosóficos – de maneira empírica e racional -, recusando, assim, quaisquer dogmas, principalmente, os relacionados às doutrinas religiosas e/ou políticas.
Para saber sobre os ideais iluministas,  > acesse aqui <
A história real, narrada em flashback através de uma carta que Caroline Matilde escreve no exílio e a destina aos seus filhos, Frederick (Frederico VI, 1768–1839) e Luísa Augusta (1771-1843). Ela descreve todos os acontecimentos desde a sua chegada à Corte, em 1776, aos 15 anos para se casar com Cristiano VII – que não se interessava em manter relações sexuais com ela –, passando pela chegada de Struensee em 1769, o qual lhe trouxe a companhia, o prazer do sexo e os livros dos pensadores iluministas, até o golpe político promovido, em 1772, em uma união da elite, políticos conservadores, igreja e militares que desfez todas as mudanças iluministas implantadas no curto período de 3 anos.
Cristiano VII, Caroline Mathilda e Johan Friedrich Struensee por artistas da época
Cristiano VII, Caroline Mathilda e Johan Friedrich Struensee por artistas da época
Neste contexto, o enredo centraliza dois aspectos históricos: a relação amorosa entre ela e Struensee e como este manteve, durante três anos, enorme influência pessoal junto ao jovem monarca – que segundo alguns historiadores tinha baixíssima autoestima, inclinações homossexuais e sintomas de esquizofrenia –, a ponto de governar a nação; e, segundo, como a revolução filosófica iluminista foi posta em prática e tornou a Dinamarca, durante o citado  período, o centro de luz na Europa, influenciando os demais países do continente.
Para saber sobre o Rei Cristiano VII da Dinamarca, > acesse aqui <
Um detalhe da História
Acrescente-se (e isso não está no filme) que Cristiano VII conheceu Struensee na Prússia (atual Alemanha), em 1767, e que o levou em uma viagem a Londres e Paris. Na cidade-luz, conheceram Diderot, o qual deixou implantada na cabeça do médico, quando falam sobre a possível loucura do monarca, uma frasezinha filosófica: mas, se o for, então a doença deixa um vazio no centro do poder. Quem quer que ali entre tem uma oportunidade maravilhosa. Struensee, leitor voraz dos pensadores iluministas, entendeu perfeitamente o recado e o utilizou para manipular Cristiano VII.
Caroline, por sua vez, conhecedora as obras de Locke e dos iluminados franceses, quando é atendida por Struensee, tem o caminho aberto a se tornar a sua amante ao ver dezenas de livros de seus autores preferidos na estante. Ele lhe dá uma das obras de Rousseau. É o início de um relacionamento mais próximo.
Para saber mais sobre Carolina Mathilde, > acesse aqui <
Carolina Mathilda encontra na biblioteca dele os livros que foram proibidos: início da paixão
Carolina Mathilda encontra na biblioteca dele os livros que foram proibidos: início da paixão
As reformas iluministas foram implantadas por Cristiano VII, mas os seus originais arquitetores foram a rainha e seu amante. Ele, o rei, tinha o médico como um grande amigo e uma admiração ao ponto de deixá-lo governar a Dinamarca como o Rei da Prússia, como diz abertamente.
Reformas aplicadas
Entre as reformas iluministas, cite-se, a vacinação obrigatória para as crianças e os enfermos nos hospitais, a construção de uma rede de esgotos (o detestado pelos políticos sistema de saneamento básico), a redução da carga horária dos trabalhadores, a eliminação da censura às obras literárias e da tortura para extrair confissões de prisioneiros, a taxação das terras dos grandes latifundiários, também a proibição da violência como punição para colonos e escravos, a suspensão da gratificação de pensões a funcionários públicos, a abolição da pena de morte para casos de roubo, criação de um fundo de proteção para os filhos ilegítimos e a construção de abrigos para as crianças abandonadas, entre outras.
No entanto, Struensee não teve a coragem de promover a maior das reformas exigida pelo iluminismo: a liberdade, expressada pela abolição da escravatura – certamente por temer uma revolta dos poderosos latifundiários e de seus aliados, os políticos e a igreja. Isso viria a ser feito por Frederico VI após assumir o poder em um golpe de Estado que tirou a avó e o Conselho do poder.
Para saber mais sobre Johan Friedrich Struensee, > clique aqui <
Alicia Vikinder e Mads Mikkelsen em O AMANTE DA RAINHA (2012): o Iluminismo no poder
Alicia Vikinder e Mads Mikkelsen em O AMANTE DA RAINHA (2012): o Iluminismo no poder
Resgate da História
O Amante da Rainha resgata esse processo histórico e põe luzes sobre a Dinamarca do final do século XVIII. Ao seu final, a obra de Arcel promove, para quem não sair às pressas do cinema, uma reflexão sobre as ideias iluministas que floresceram há 250 anos e o vácuo no presente, no qual se destaca a ausência de grandes reformas sociais e políticas.
No bojo do pensar, com maus políticos e governantes incompetentes, mal intencionados ou simplesmente corruptos promovem de atraso na história das nações e no progresso da civilização como história de conquistas. Com isso, fui levado a duas perguntinhas filosóficas: Será que as ideias iluministas vivem até hoje em cada um de nós? O mundo atual se ressente dos ideais iluministas?
O Amante da Rainha, ao puxar o espectador para a reflexão através da História no período iluminista, revela a sua importância como obra de arte. Um filme poderoso. É um dos melhores, senão o melhor, do ano.
Ficha técnica
O Amante da Rainha
Em Kongelig Affaere
Dinamarca-Suécia-República Tcheca, 2012
Direção: Nikolaj Arcel
Elenco: Mads Mikkelsen (Johan Friedrich Struense), Alicia Vikinder (Caroline Mathilde), Mikkel Boe Folgsgaard (Cristiano VII), Trini Dyrnholm (Juliane Marie) e David Dencik (Ove Hoegh Guldberg)
137 minutos
16 anos
Em cartaz
Multiplex UCI Ribeiro/Sala 5 – Sextas, 21h30; sábados, 10h45; domingos, 12h10; Faixa Nobre/19h – de segunda a 5ª feira.
Confira o trailer de O Amante da Rainha.
FONTE:  http://blogs.diariodonordeste.com.br/blogdecinema/criticas/amante-rainhacritica-iluminismo-ideias-perigosas/

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