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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

CIDADE E UTOPIA.

Cidade e Utopia
CIDADE E UTOPIA
   Utopia tem como significado mais comum a idéia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro, quanto no presente, porém em um paralelo. A palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos οὐ, “não” e τόπος, “lugar”, portanto, o “não-lugar” ou “lugar que não existe”.
Utopia é um termo inventado por Thomas Morus que serviu de título a uma de suas obras escritas em latim por volta de 1516. Segundo a versão de vários historiadores, Morus se fascinou pelas narrações extraordinárias de Américo Vespucio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503. Morus decidiu então escrever sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita.
O “utopismo” consiste na idéia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa e normalmente contrária ao mundo real. O utopismo é um modo absurdamente otimista de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem.
Contexto da ÉpocaLondres Sec. XIX   A cidade ainda possuia estrutura urbana medieval, com ruas pequenas e região portuaria tumultuada com bairros operários superlotados. A atividade econômica estava em decadência e a população vivia em péssimas condições de vida.
Ruas de Londres no final do XIX
Paris Sec. XIX   Paris possuía problemas semelhantes aos de Londres.
A Gênese do Urbanismo: Crítica a cidade industrial.  Essa ideia de utopia surge com a decadência do Papel do cristianismo e faz uma crítica a sociedade industrial, mostrando os efeitos negativos causados por ela, como por exemplo: Escassez do solo, divisão do trabalho, degradação do homem, etc. As cidades utopicas deveriam  ser socialmente sustentaveis e contar com soluções espaciais alternativas a metropole.
Nesta época florescem uma série de tentativas para solucionar problemas como os enfrentados por Londres e Paris. Socialmente, leis trabalistas são revisadas, surge as leis sanitáristas e novos modelos urbanisticos são formulados.
Fanlanstério/ Falanges – Charles Fourier – 1843
   “O Falanstério era como uma cidade construída no campo”. Para Charles Fourier as fábricas deveriam ser transferidas para o campo e uma comunidade deveria ser construída próxima a elas para os operários, surge assim o falanstério. O edifício continha todas as necessidades de um operário. Foi construído com uma tipologia clássica e possuía uma ala central e duas laterais (direita e esquerda). Em todo o prédio existiam circulação e jardins internos.
Ao mesmo tempo urbanos e rurais, os falanstérios seriam auto-suficientes trocando bens entre si, dispondo de terras para agricultura e outras atividades econômicas, para vivendas e uma grande casa comum. Segundo Fourier os falanstérios seriam criados através da associação voluntária de seus membros e nunca deveriam ser compostos por mais de 1.600 pessoas, que viveriam juntas em um mesmo complexo edificado. Cada pessoa seria livre para escolher seu trabalho, e o poderia mudar quando assim desejasse. Uma rede extensa desses falanstérios seria a base da transformação social que por meio da experimentação daria origem a um novo mundo.
O falanstério era organizado de forma que os idosos ficavam no térreo, as crianças no mezanino e os adultos nos andares superiores separados por classe social.
Familistério – Jean Baptista Godin – 1850
   O Familistério de Godin foi uma tentativa de aplicação das teorias socialistas utópicas, em Guise, no norte da França, inspirado nos falanstérios propostos por Charles Fourier na sua obra “A harmonia universal e o falanstério”.
Com a intenção de concretizar suas idéias sócio-políticas, Jean-Baptiste Godin decidiu comprar, em 1859, 18 hectares de um terreno onde mandou construir um complexo arquitetônico de habitações para operários. A luminosidade dos apartamentos, a circulação do ar, o acesso a água potável em cada piso, são todos elementos fundamentais que eram garantidos pela arquitetura própria dos edifícios. O cuidado com o corpo era igualmente assegurado pela criação de uma lavanderia, situada perto do curso de água, na qual se lava e seca a roupa (evitando assim os odores da umidade nos alojamentos), havia chuveiros e uma piscina (com uma prancha móvel, para permitir às crianças nadar em total segurança) onde a água, proveniente da fábrica próxima, chega em perfeita temperatura.
Finalmente, Godin põe em prática todo um sistema de proteção social criando caixas de segurança que protegiam contra as doenças, os acidentes laborais e asseguravam uma reforma aos 60 anos. À medida que o projeto  foi se consolidando, ficou conhecido como Palácio Social.
Gerido de uma perspectiva empresarial, ainda que segundo um espírito comunitário (de acordo com as teorias sociais de Saint-Simon e Owen, além do já referido Fourier), o familistério durou até 1968, o que o torna um exemplo de sucesso.
Interior do Familistério
Vila Operaria – Robert Owen
   Socialista ao extremo, no limiar do século XIX, mais precisamente em 1797, Owen visitou pela primeira vez New Lanark, quando disse: “De todos os lugares que vi, preferi esse para experimentar uma idéia que tenho há muito tempo.”
New Lanark era a maior fábrica de fiação de algodão do Reino Unido, nessa época. Owen, então, assumiu a presidência e encontrou uma sociedade deplorável. O reflexo dessa situação estava nas condições de trabalho e de vida de grande parte dos trabalhadores.
Homens, mulheres e crianças, muitas com não mais que cinco e seis anos trabalhavam até 14 horas por dia, seis dias por semana, ganhando salários miseráveis e vivendo em condições quase subumanas. Sem nenhuma atenção para a higiene, a proliferação de inúmeras doenças era favorecida.
Para o socialista Owen, essa era uma situação que não poderia continuar. Considerava que os administradores deveriam assumir o papel de reformadores.
Para dar o exemplo construiu, em Lanark, casas melhores para seus empregados, manteve as ruas limpas, construiu uma escola e ainda montou, em sua empresa, um armazém onde as mercadorias poderiam ser adquiridas a um preço mais justo. Reduziu a jornada de trabalho para dez horas diárias, proibiu a agressão a crianças e recusou-se a contratá-las com idade inferior a dez anos.
Acreditava em contradição a seus colegas empresários, que o melhor investimento estava nos trabalhadores ou “máquinas vitais” como ele os denominava.
Não só melhorou as condições de trabalho em sua fábrica, como também introduziu o que chamamos hoje de “Avaliação de desempenho”. Owen conseguiu uma arrumação ordenada dos trabalhos em sua fábrica.
Cidade Jardim – Hebenezer Howard – 1898   Howard em seus estudos, perguntou-se “Para onde as pessoas irão?”, então considerou três imãs de atração da população, a cidade inchada , o campo vazio, e a cidade-campo, que seria a terceira solução.
Diagrama que mostra os três imãs.
   Ele propõe muito mais do que a harmonia entre homem e natureza, ele apresenta toda uma política para a manutenção do equilíbrio social, ameaçado pelas sórdidas condições de urbanização das camadas populares inglesas durante o século XIX. Planeja não só as formas, as funções, os meios financeiros e administrativos de uma cidade ideal, sadia e bela, mas, principalmente, um processo para satisfazer as massas e controlar sua concentração nos centros metropolitanos. A cidade-Jardim seria construída no centro dos 2400 hectares, e ocupando 400 hectares, o resto seria para o campo, cortada por seis bulevares com 36 metros,uma avenida central com 125 metros de largura, formando um parque. No centro ficariam órgãos públicos e para o lazer (teatro, museu e etc..), o Palácio de Cristal, ocuparia uma grande área servindo como mercado e jardim de inverno, proporcionando aos ingleses durante o longicuo período chuvoso um lugar para recreação. A população seria de cerca de 30000 pessoas, sendo 2000 no campo, as industrias ficariam na periferia ao longo da linha férrea, facilitando o escoamento da produção, a área agrícola seria constituídas por fazendas , cooperativas ou particular. Na cidade jardim, o solo urbano é socializado e o lucro obtido pelo loteador vem das cotas pagas mensalmente, ninguém se torna proprietário de sua casa, loja, indústria, isso se da pelo arrendamento.
   Primeiramente Howard pensou como tornaria sua idéia viável, então em 1899 funda a Associação das Garden-Cities, e logo em 1903 pode adquirir Letchworth, e chamou os arquitetos Parker e Umwin para projetar a cidade , esta cidade atingiu grande êxito, e chamou atenção dos jornais de Londres. A atmosfera na cidade era excitante e prazerosa (alcançou em 1962 26000 habitantes). Em 1919 Howard achou um terreno a 15 Km de Letchworth, onde instalaria Welwin, a segunda cidade-jardim. Hermann Muthesius também teve um papel importante na criação da primeira cidade-jardim Alemã – Hellerau, próximo a Dresden, que foi fundada em 1909 por Karl Schmidt-Hellerau – a única cidade da Alemanha onde as idéias de Howard foram completamente implementadas.
Letchworth
Letchworth
Cidade Linear – Soraya y Mata
A cidade linear é um modelo concebido pelo urbanista espanhol Arturo Soria y Mata em fins do seculo XIX, construída como bairro experimental na perifería de Madrid, Espanha, em 1894. A noção de cidade linear foi utilizada no modernismo a partir do final da década de 20 por alguns urbanistas como Nicolai Miliutin, Le Corbusier, Ernst May, Lúcio costa, Kenzo Tange, entre outros.
A cidade linear tem como característica mais marcante o desenvolvimento em linha, geralmente com uma via central que funciona como estrutura principal, em torno da qual se desenvolvem ramos secundários. A interpretação da cidade linear varia segundo cada um dos autores. Para Miliutin ela estava ligada ao sistema de produção industrial, Le Corbusier a utiliza para atingir maior liberdade formal e de igual maneira trabalhar livremente o sistema viário dentro de sua proposta de hierarquía viária apresentada tambem em “Sur Les Quatre Routes” (‘Sobre as 4 Vias’). Ernst May desenvolve a relação cidade/indústria proposta por Miliutin no seu projeto para a cidade soviética de Magnitogorsk. No pós-guerra Lúcio Costa adota o partido linear no desenvolvimento do plano piloto de Brasília e, também em 1960, Kenzo Tange apresenta um plano monumental de cidade sobre a baía de Tóquio. Lúcio Costa utilizará novamente o partido linear como um dos elementos do seu plano para a Barra da Tijuca no Rio de Janeiro.
A cidade linear está ligada em muitos aspectos à questão do transporte, por este motivo da crescente importância ao sistema viário no planejamento da cidade. Em sua concepção inicial, com Soria y Mata, esteve ligada ao movimento higienista e de igual maneira à questão dos bairros operários . Desde a década de 1880, Soria y Mata acreditava que sua cidade poderia se estender pelo território se ligando a outras e até a diferentes países, em uma grande rede urbana. Este fenômeno não está longe da realidade dos nossos dias. Através de sistemas de transporte super-rápidos (como o trêm-bala), cidades são interligadas em poucas horas no Japão e em alguns países da Europa.
Cidade Industrial – Tony Garnier – 1901/1904
   A cidade industrial de Tony Garnier foi criada em 1901 e exposta em 1904, esse projeto de planejamento urbano era a planificação do que deveria ser uma cidade moderna. Projetada para 35000 habitantes, a cidade industrial antecipava alguns princípios da Carta de Atenas do CIAM de 1933.
Plano da Cidade Industrial
A proposta era, sobretudo de uma cidade socialista sem muros ou propriedade privada, onde todas as áreas não construídas eram parques públicos.
O plano linear de Garnier separava as zonas: existiria o agrupamento racional da indústria, da administração e das residências, além da exclusão dos pátios internos e estreitos, criando uma quantidade suficiente de espaços verdes na cidade. Além dessas características no planejamento urbano, havia também o uso do novo material, o concreto armado, que era a potencialidade estética do século XX.
Para o estudo da cidade industrial foi escolhida a região Sudeste da França. Essa área foi determinada depois de concluído que ela era bem localizada e teria suas necessidades sanadas por soluções próximas. Alguns fatores que levaram a essa escolha foram: a presença de matéria-prima, a força natural que pode ser usado pelo homem (um leito da torrente represado) e a comodidade dos meios de transporte devido a uma estrada de ferro próxima à área.
Para dispor as construções na cidade buscou-se levar em conta as necessidades materiais e morais do indivíduo, então se criou regulamentos para manter a qualidade de vida humana. As divisões da casa deveriam corresponder aos regulamentos e cada habitação deveria dar acesso para a construção localizada atrás, criando um passeio público que permitiria o acesso em qualquer sentido desejado dentro da cidade.
Bairro da Cidade
   Utópia: sonho x realidade   A revisão das várias utopias urbanas que filósofos, socialistas, arquitetos e urbanistas procuraram desenvolver pra melhorar as condições de vida dos moradores neste planeta, raras vezes encontraram sua realização. Na maioria das vezes o modelo utópico permaneceu uma virtualidade, sem chance de impor-se na realidade. Outras vezes, a utopia reverteu-se em seu contrário, perverteu-se. Longe de realizar um sonho intensamente desejado pela maioria dos seres humanos, transformou-se em um pesadelo.
Outras utopias foram parcialmente realizadas, um exemplo são as comentadas anteriormente, como foi o caso do familistério de Godin, que concretizou o modelo utópico do falanstério de Charles Fourier. Mas via de regra, o verdadeiro destino da utopia é a decomposição e fragmentação.
Longe de desanimarmos com a impossibilidade ou dificuldade de realização dos modelos utópicos, devemos mantê-los como princípios norteadores de nossas ações e esperanças, sem fraquejar, sem abandonar o objetivo. Um mundo sem utopias, seria um mundo entendiado, desanimado, morto.
“As utopias não são muitas vezes mais que verdades prematuras” (Lamartine)
“…e é isso que dá aos nossos sonhos a ousadia: eles podem ser realizados.” (Le Corbusier)

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/cidade-e-utopia-novos-modelos-sociais-e-espaciais/

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