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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

DISCUSSÕES SOBRE ARQUITETURA

Arquitetos projetam e executam, dentre outras coisas, construções magníficas, edifícios 
que impressionam. Fazem curvas, ângulos retos, parábolas, elipses, cubos, quadrados 
e círculos. Projetam, também, enclaves fortificados, (auto)segregadores, cidades desiguais 
e espraiadas. Agora pergunto: e a arquitetura para quem precisa de arquitetura?

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Fonte: www.namargem.ufscar.br
Quando usamos o Google para pesquisar por "arquitetura", temos a seleção instantânea 
de inúmeras imagens de edifícios lindos, tecnicamente impecáveis, feitos por arquitetos 
que estão em capas de revistas e viajando para Dubai para conversar sobre novos trabalhos 
absurdos com algum Xeique. O primeiro contanto com a arquitetura, muitas vezes, é esse. 
A definição de arquiteto é, para muitos, se não de decorador com ensino superior, um 
fazedor de coisas bonitas e faraônicas.
As escolas de arquitetura no Brasil são muito responsáveis por isso. Uma grande parcela 
dessas está preocupada em injetar mão-de-obra no mercado, não aprofundando conceitos 
fundamentais para a produção arquitetônica, tais como filosofia, sociologia, leis de uso 
e ocupação do solo, função social da terra e da propriedade, etc. Nesse sentido, 
estamos formando mais e mais arquitetos que querem projetar casas de luxo, proliferar 
condomínios, shoppings, praças sem bancos, espaços sem vida e cidades sem diversidade.
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Cidade do México Fonte: Archdaily
É errado querer projetar edifícios gigantes, com curvas, com luzes, com King Kong 
ou com formato fálico? É errado projetar casas com muitas fachadas de vidro, piscina 
e campo de golf (ô esporte chato) para as madames em Alphaville? Claro que é uma 
discussão que resultaria em muita controversa. Não, não é errado. As madames têm direito 
à arquitetura e, sim, a verticalização é uma saída muito viável em certos casos. Todavia, 
só isso que os arquitetos podem devolver à sociedade? Um bacharel que estuda o lugar, 
a cidade, a filosofia, a história, etc, está limitado à produção de espaços murados, 
segregadores, aversivos?
É isso que devemos discutir. A política molda as nossas cidades. Existem leis que 
seriam extremamente úteis, se aplicadas, para atenuar os efeitos da especulação imobiliária 
e o apetite de extermínio dos poderosos para com os pobres.
Por que não se aplica? Pois as vontades de alguns beneficiam um parcela e condenam 
a outra. O sistema rodoviário desenhou muitas de nossas cidades e as tornou ainda 
mais segregadoras. O interesse de grandes construtoras passa por cima da lei, cometendo 
crimes, desconsiderando ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), APPs (Áreas de 
Preservação Permanente), dentre outros mecanismos que contribuiriam para uma cidade 
mais heterogênea e com espaços cheios de potencialidade.
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Rio de janeiro Fonte: Archdaily
Estamos criando cidades que não são para as pessoas - pelo menos não para todas as 
pessoas. O problema não é construir um grande edifício desconstrutivista, mas fazê-lo 
em uma ZEIS, em uma Área de Preservação Permanente; a casa do rico tem que ser 
projetada, porém o erro está em produzir condomínios, muros e barreiras. Edificar aberrações 
que, muitas vezes, são construídos em locais onde havia habitações do mais pobre, daquele 
que foi jogado para mais longe da cidade.
É essa arquitetura que estamos fadados a produzir? Espero que não.
Arquitetura é ação política. Muitos dos danos sociais que temos hoje são frutos históricos 
de um mau planejamento urbano, projetos essencialmente discriminadores, dentre outros 
fatores. Podemos mudar a cidade e os espaços materializando, em nossas obras como 
arquitetos, a política, a filosofia, a história, a sociologia, o direito e as outras facetas que 
azem parte da disciplina tão plural que é a arquitetura. Assim poderemos construir uma 
cidade mais justa.
Com esse pensamento, o qual, certamente, deveria ser mais trabalhado na universidade, 
procurar fazer arquitetura para quem precisa de arquitetura. Esta é uma Ciência Social 
Aplicada, a qual deve ter impacto positivo na comunidade e leis como a 11.888, dentre outras, 
fomentam tais práticas.
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Trafalgar Square – Londres – Foto: Mark Hillary Fonte: urbanidade.arq.br
Produzir espaços públicos que atraiam pessoas, que sejam lugares. Discutir sobre o 
transporte público, sobre ciclovias, sobre a mobilidade urbana em geral. Ser político ao 
fazer arquitetura: pensar naquele que precisa, analisar o indivíduo em todas as escalas. 
Produzir, dentro de seus partidos e condições (financeiras, climáticas, sociais), obras que 
não se limitem à unidade edificada.
Por que não propor conjuntos habitacionais que levem em consideração a cultura, o lote, 
as pessoas que serão contempladas com o projeto? Por que não criticar veementemente a 
especulação imobiliária, os interesses dos ricos e das construtoras? Por que não construir 
com materiais sustentáveis, para diminuir custos? Por que não fazer intervenções no espaço 
público? Por que não criticar os enclaves fortificados e as praças que não têm bancos? E, 
sobretudo: Por que não articular medidas, propor projetos, propor intervenções e propor
 discussões nas regiões onde mais se precisa de arquitetura?
São muitos porquês. Mas uma coisa é certa: diferente do que se prega por aí, em Hollywood, 
na TV e nas próprias universidades, arquitetos não são decoradores e não fazem casinhas. 
Arquitetos transformam o mundo.
Pelo menos podem. Por que não fazer?
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/isso_nao_e_um_blog/2014/11/
discussoes-sobre-arquitetura.html

LEGADO ETERNO DE UM CENTENÁRIO

Lina Bo Bardi, responsável por obras importantíssimas da arquitetura paulistana e 
brasileira, completaria 100 anos no dia 5 de dezembro de 2014. Porém, infelizmente, 
nos deixou em 1992. Mas seu legado é mais que centenário: é eterno. O MASP, o Sesc 
Pompéia e a Casa de Vidro são grandes marcos, os quais sempre serão lembrados e 
admirados por todos, pois são as ideias materializadas de Achillina Bo.


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 Fonte: cmais.com.br
A arquitetura concisa, direta, inteligente de Lina é surpreendente. A simplicidade e 
riqueza fazem dela uma verdadeira mestra no pensar e no fazer arquitetônico.
Lina.jpg Fonte: www.revistabrasileiros.com.br
Lina Bo Bardi, a mulher responsável pelo MASP e por outros marcos da arquitetura 
paulistana e brasileira, por exemplo em Recife e Salvador, é centenária. Imigrante 
fugida dos regimes totalitários da Europa, Lina nos trouxe uma arquitetura concisa, direta, 
inteligente. Brutal. O tecido urbano de São Paulo tem, na sua imagem, a materialização 
das ideias de Lina. A arquitetura paulistana tem, em sua essência, os traços de Lina. 
O centenário tem, como principal objetivo, homenagear, de formas e formas, uma 
mestra na arte de arquitetar.
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Fonte: www.cbre.com.br
Há 100 anos nascia Achillina Bo, a querida Lina. Graduou-se em Arquitetura & 
Urbanismo na Universidade de Roma e veio para o Brasil em 1946 com seu 
marido Pietro Maria Bardi. Naturalizou-se brasileira. 
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Lina e Pietro em 1951 Fonte: divirta-se.uai.com.br
Em São Paulo, naquela época, tínhamos a figura do rico comunicador Assis Chateaubriand,
 que estava insatisfeito com a cultura paulistana e decidiu investir na ideia de outro museu 
(na época, São Paulo contava apenas com o Liceu de Artes e Ofícios, que era da década 
de 1880).
Chateaubriand precisava, primeiramente, de um consultor de arte. Ficou sabendo que um 
imigrante italiano estava no Brasil e poderia ajudar. Tal imigrante era Pietro Maria. Sendo 
assim, Assis também conheceu Lina, para qual designaria o projeto do novo museu da 
cidade, o qual se localizaria no alto do Vale do Anhangabaú, de frente para o Parque 
Trianon, num terreno cedido pela prefeitura da capital.
A arquiteta pensou numa forma que seguisse a Av. Paulista, uma forma que pudesse 
dar continuidade e monumentalidade, o que é muito difícil. O mais marcante do externo é, 
sem dúvidas, o vão livre. Nele, o desígnio de Lina se concretiza: um lugar para o convívio, 
para viver o espaço, para transformá-lo em lugar.
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Fonte: decracha.com.br
Internamente é impossível saber o que mais se destaca. Pietro Maria Bardi conseguiu 
obras raríssimas (Van Gogh, Delacroix, Gauguin, etc.) por preços quase irrisórios. 
Assis Chateaubriand investiu bastante e teve retorno. No MASP nós temos França, 
Itália, Brasil. O Mundo.
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Pietro Maria Bardi ao lado das obras que chegaram de navio. Na caixa que contém as preciosidades, pode-se ler "
Assis Chateaubriand - Museu de Arte de São Paulo, Brasil" Fonte: masp.art.br
Achillina, além do MASP, possui outras obras que são marcos, que são ilustres, 
que são belas. O Sesc Pompéia é tudo isso e mais um pouco.
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Fonte: cbre.com.br
A antiga fábrica de tambores da Pompéia ganhou três vizinhos prismáticos de 
proporções gigantescas. Dois prismas retangulares e um cilindro. Os primeiros 
foram moldados com madeira e algumas placas de plástico, conferindo as linhas 
externas tão marcantes. As lajes são de concreto protendido. As 70 seções de um 
metro do segundo, o cilindro, foram moldadas em troncos de cone, o que conferiu 
uma inclinação às laterais, fazendo com que cada seção se encaixasse na outra e 
que sobrasse uma saliência para cada metro, resultando num aspecto único.
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Fonte: universes-in-universe.org
As passarelas que ligam o prisma menor ao maior são, talvez, os pontos mais marcantes 
do exterior da obra. Cada passarela, apesar de seguir os padrões de dois metros de 
largura e um metro de peitoril, tem a sua peculiaridade. Umas começam em V e 
terminam perpendiculares, outras começam perpendiculares e desembocam num Y, 
etc. Isso é Lina. Essa simplicidade complexa que resulta na beleza arquitetônica que 
encanta os olhos.
Além disso, internamente, a obra possui blocos à mostra, concreto aparente, 
chapiscos, etc. Tudo pensado. As janelas irregulares, moldadas por isopores inseridos 
na concretagem, bem como o aspecto interno citado, traduzem as características 
simplistas da arquitetura rica de Lina Bo Bardi.
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Fonte: revistaveneza.wordpress.com
Em 1951, Lina projeta a Casa de Vidro, no Morumbi, a qual servirá de residência para 
ela e Pietro Maria. Desde 1990 a residência funciona como o Instituto Lina Bo e P.M. 
Bardi, onde há o acervo pessoal do casal. Neste, há objetos, móveis, obras de arte, 
milhares de desenhos e escritos de Lina, além de registros fotográficos. O acervo é 
um dos grandes responsáveis por apresentar importantes conceitos da arte e arquitetura 
no Brasil.

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Fonte: www.vitruvius.com.br
Achillina Bo. Personalidade forte, marcante. Ideias concisas, transcendentais. 
Projetos únicos, monumentais. Arquiteta ítalo-brasileira, visionária. Artisticamente 
e arquitetonicamente singular, centenária.
Lina não fez só arquitetura, pensou. Fez arte na sua casa, com seu marido. 
Fez cinema no nordeste, com Glauber Rocha. E muito mais. Foi além.
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Croqui de Lina Bo Bardi Fonte: OLIVEIRA, Olivia de. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. São Paulo, 2006. Página 134.
E que todos possam admirar, refletir e se felicitar com o trabalho da mestra Bo Bardi. 
Simplicidade e riqueza arquitetônica caminhando juntas: vemos na obra de Lina. 
Concisão, seção, paixão: vemos em Lina e em sua obra. Que esta arquitetura 
centenária viva para sempre, pois ela é a materialização do ideário de 
Achillina Bo, a Lina Bo Bardi.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/isso_nao_e_um_blog/2014/04/legado
-eterno-de-um-centenario.html




EU TAMBÉM PREFIRO SER

Louco, lúcido: Maluco Beleza. O Carpinteiro do Universo e Carimbador Maluco que tentou. 
Aconselhou seu Amigo Pedro e, mesmo com um Sapato 36, continuou sem Medo da 
Chuva, plantando seu Capim Guiné, com seu Ouro de Tolo, mesmo no Dia em que a 
Terra Parou. Cantou para sua morte e sempre preferiu ser uma eterna Metamorfose 
Ambulante.

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Fonte: O Universo Raulseixista
O ano é 1945. Dia 28 de junho nasce o filho de Dona Maria Eugênia Santos Seixas 
com Raul Varella Seixas, Raul Santos Seixas. Este menino revolucionaria a música, 
seria um ídolo aclamado por milhões. Os primeiros acordes do rock nacional, 
digamos assim, foram dados no violão de Raul e, musica a musica, Raulzito 
colocava um pouco de si, um pouco de loucura e um pouco de lucidez. Esse foi 
o caminho que ele mesmo escolheu.
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Fonte: atrito-mental.tumblr.com
O engenheiro e pai de Raul possuía um acervo de livros bem interessante, 
sobretudo para seu filho. Raulzito se apaixona por literatura e passa horas 
do seu dia lendo e inventando.
Com 12 anos Raul se muda para uma casa que fica próxima ao consulado 
norte-americano. Pouco tempo depois, ele faz amizade com garotos do 
consulado e passa a ter contato com o rock internacional, escutando Elvis, 
Chuck Berry, dentre outros, através de discos que pegava emprestado com 
seus novos amigos.
Raul mergulhou profundamente no mundo do Rock. Deixou a escola e 
disse que a única coisa que aprendeu foi a odiá-la. Tudo que aprendeu 
foi nos livros, na rua e em casa. Aprendeu muito com o Rock, muito mesmo. 
Assim como Gato, do glorioso Capitães da Areia, andava pelas ruas de 
Salvador com brilhantina no cabelo, todo descolado e com um estilo seu. 
Raul era o rock que escutava e estava a frente de todos em relação ao que 
tinha de novo na música.
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Fonte: O Universo Raulseixista
Década de 1960. Raul e seus irmãos formam um grupo, os 
Relâmpagos do Rock. Em 1964, Raul se profissionaliza, descobre os 
The Beatles (aqueles que "deram a porrada", dizia Raul) e cria o The Penters
que é uma nova formação de seu antigo grupo.
The Panters tenta gravar, mas nunca tem suas únicas duas músicas comercializadas. 
Agora é Raulzito e Seus Panteras, o mesmo grupo, porém com o nome diferente e 
uma aparelhagem nova, recém adquirida. Estavam prontos para o sucesso (ou quase).
Tocaram em bares, boates e fizeram alguns shows. Seus maiores inimigos são 
os nacionalista da Bossa Nova. Raul odiava a Bossa Nova, preferia o rock que 
fazia seu coração e sua mente gritarem. O Rock era mal visto, mas Raulzito era 
bom e faria aquele gênero ser o mais adorado.
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Raulzito e Seus Panteras Fonte: oglobo.globo.com
Raul conhece e se apaixona por aquela que viria a ser sua primeira esposa, 
Edith Wisner. Para ganhar crédito com o sogro, estuda e passa em Direito. 
Raulzito queria provar que exames e estudar, da forma que era imposta, é fácil. 
Por um tempo deixa de lado sua carreira musical.
Em 1967 Raulzito se casa, retoma suas atividades com os Seus Panteras e vai 
para o Rio de Janeiro. Lá, eles gravam um LP, Raulzito e Os Panteras. No Rio, 
de um lado temos Caetano e Gil na Tropicália e, do outro, Jerry Adriani (que fizera 
o convite para Raul vir à Cidade Maravilhosa), Timóteo, etc. O LP recém gravado, 
com letras complicadas e temas desinteressantes ao publico, foi um fracasso. Raulzito 
e Seus Panteras virou uma banda de apoio. O Grupo se desfez.
Raul volta abalado para Salvador. Jerry o convida de novo, agora para ser produtor 
musical na CBS.
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Fonte: alexandreseixasraul.blogspot.com
Raul faz algumas composições, descobre alguns grupos, alguns artistas, mas 
nada muito relevante para ele. Isso até chegar Sérgio Sampaio à porta da CBS. 
Raul e Sérgio se tornam amigos e o segundo incentiva o primeiro a voltar a ser artista. 
O Diretor da CBS viaja e, então, Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Edy Star e Mirian 
Batucada produzem um LP: Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão 
das Dez.
O LP vendeu pouco, mas foi uma felicidade sem tamanho para Raul. O protótipo de
 Maluco Beleza se iniciara ai.
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Raul Seixas e Paulo Coelho Fonte: rsraulseixas.blogspot.com.br
Agora o ano é 1972. Raul lê um artigo sobre Ovni's na revista A Pomba. O autor do 
artigo: Paulo Coelho. Raul decide conhecê-lo, pois se interessou muito pelo que 
leu - ai nasce uma grande amizade.
Com o apoio de Sérgio, Raul se inscreve no VII Festival Internacional da Canção e 
uma das suas músicas, Let Me Sing, Let Me Sing, se classifica para final. Isso 
garante repercussão e firma Raul no mundo da música, mesmo que discretamente.
O sucesso vem genialmente. Ouro de Tolo, uma letra auto-biográfica e altamente 
crítica, chega dando uma tapa na cara da classe média em pleno "milagre econômico".

No cume calmo Do meu olho que vê Assenta a sombra sonora De um disco voador
Viria o LP, em 1973. Krig-Ha, Bandolo!, tido pela crítica como um dos 10 da 
história do Rock Nacional (e não é pra menos!). Raul e Paulo Coelho fazem boas 
letras juntos, mas Raul transcende a dupla e, sozinho, compõe os maiores 
sucessos: Metamorfose Ambulante (!!!), Mosca na Sopa, que é uma outra 
extremamente crítica, além da própria Ouro de Tolo.
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Fonte: portrasdavitrola.blogspot.com
Raul explode! Agora ele parte para outra obra genial, Gita. Estamos em 1974.
 Esse álbum vende incríveis 600 mil cópias e rende a Raul o Disco de Ouro.

Eu sou a luz das estrelas!
Raul não gostou do fato do álbum ter se tornado um tanto doutrinário. 
Ele dizia que, mesmo assim, mesmo ele querendo ser uma espécie de Deus, 
era aquilo que retratava-o na época.
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Fonte: wikipedia
O álbum possuía composições fantásticas. Medo da Chuva, de Raul e Paulo, 
bem como S.O.S. e Trem das Sete, essas apenas de Raul, retratam bem isso.
toca raul2.jpg Fonte: 3friendssay.blogspot.com
Paralelamente, Raul e Paulo trabalhavam na Sociedade Alternativa, baseada 
nas ideias do ocultista Aleister Crowley. Isso não agradou o regime militar, e Raul 
e Paulo foram presos e torturados pelo DOPS. Partem para o exílio.
 Faze o que tu queres, pois é tudo da Lei!
Raul está de volta. Vamos, então, para 1975 com o projeto de Novo Aeon, o novo 
LP. Segundo Raul, este é uma interpretação própria do livro "Livro da Lei", do 
mesmo embasador da Sociedade Alternativa.
Nem faixas como Tente Outra Vez e A Maçã fizeram do LP um sucesso. Foi um fracasso.
O ano agora é 1976. Raul está casado com Glória Vaquer e lança Há Dez Mil Anos Atrás
Neste mesmo ano chega ao fim a parceria com Paulo Coelho, mesmo que a amizade 
tenha se mantido.
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Fonte: capadedvd.wordpress.com
Assim como Gita, o álbum foi um sucesso. Com faixas excelentes, as 
quais são adoradas pelo público e pelo Raul, fizeram com que o fracasso de 
Novo Aeon não se repetisse. Canto Para Minha Morte, O Homem, Meu Amigo Pedro, 
Eu Também Vou Reclamar e, claro, Eu Nasci Há 10 mil Anos Atrás, fizeram do 
LP o sucesso que foi e que é.

Eu Nasci!
O Dia Em Que A Terra Parou é o novo LP. O ano é 1977, a gravadora é a WEA e 
a parceria é com Cláudio Roberto.
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 Fonte: http://luciointhesky.wordpress.com/2013/03/12/
A crítica não gosta muito, mas o mais importante acontece: os fãs adoram! 
Maluco Beleza, o maior sucesso do LP e uma das marcas e apelidos de Raul, 
é muito bem aceita. O Dia em que a Terra Parou eSapato 36 são outras que 
fizeram um baita sucesso entre os fãs. Para ser sincero, nunca vi ninguém que, 
ao escutar alguém falando "Maluco Beleza", não tenha se lembrado de Raul.
Raul finda o relacionamento com Glória. Agora há um período triste na vida do cantor,
relacionado, justamente, às mudanças pessoais e profissionais aliadas aos problemas 
de saúde.

E esse caminho que eu mesmo escolhi é tão fácil seguir, por não ter onde ir
A companheira agora é Tânia Barreto (sim, Raul era um baita dum mulherengo!). 
O Álbum é Mata Virgem e o ano é 1978. O novo LP fracassa, mesmo com a volta de 
Paulo Coelho. O motivo: péssima divulgação.
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Fonte: rockelestino.blogspot.com
O ano é 1979. O LP é Por Quem Os Sinos Dobram, o parceiro é Oscar Rasmussen e 
a gravadora é ainda a WEA, mas esse seria o último. O sucesso é moderado, mas não 
é um estouro. Raul briga com o presidente da WEA, dizendo que os produtores e a 
divulgação foram péssimos, e deixa a gravadora, bem como Tânia. Raul agora é mal 
visto no mercado de gravadoras.

Coragem! Coragem! Eu sei que você pode mais
1980. Raul assina com a CBS novamente, o amor é Kika e o LP da vez é Abre-te Sésamo 
O disco não faz tanto sucesso como esperado e eles partem para São Paulo. Jair 
Rodrigues os ajuda e o casal aluga uma casa no Brooklin.
1981. Raul faz uma série de shows com muito sucesso no Teatro Pixinguinha, em 
São Paulo. No mesmo ano, Sylvio Passos o procura e Raulzito fica sabendo da 
existência do grandessíssimo Raul Rock Club, e isso deixa o Maluco muito feliz e 
faz dele um frequentador do seu fã clube oficial. Ainda no mesmo ano, Raul deixa a CBS.
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Fonte: O Universo Raulseixista
O ano é 1982. Raul se apresenta no "Festival Música na Praia", em Santos, 
para mais de 180 mil pessoas. Ele era um sucesso, mesmo sem gravadora. 
Entretanto, a tristeza e a amargura o consumiam e o vício em álcool se potencializou. 
Em um show em Caieras aconteceu um dos episódios mais tristes de toda carreira 
de Raul: ele está tão bêbado que o público não o reconhece e o tratam como um 
impostor, com vaias e tudo mais. Raul é preso e logo solto.
O astro está cada vez mais triste. Ele e Kika tentam o projeto Nuit, mas sem 
sucesso. Raul volta pro Rio e de lá recebe a proposta de João Lara Mesquita, 
seu grande fã e diretor do estúdio Eldorado, para gravar um LP. Raulzito vem 
para São Paulo e grava o álbum Raul Seixas , com a faixa Carimbador Maluco
Raul ganha um Disco de Ouro.
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Fonte: wikipedia
O Maluco ainda está triste, queria um trabalho mais profundo. Não queria ser visto
como alguém que se rendeu ao sistema.
Ele e Kika viajam para os EUA para ver o que há de novo na música de lá.
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 Raul e Kika Fonte: Falando de Raul
Raul já está desligado da Eldorado e, em 1984, o contrato é com a Som Livre. 
Ele queria cuspir tudo, queria mostrar sua face Raul. O LP era Metrô Linha 743.
O cômico era que o disco que Raul chamava de "preto e branco" concorreu com 
outra gravação dele mesmo, lançada, no mesmo ano, pela Eldorado. A gravação foi de 
um show que Raul fez na Sociedade Esportiva Palmeiras, onde ele cantava a história 
do Rock. Sim, ele concorreu contra ele mesmo, porque já tinha vencido a concorrência alheia.
 Eu quero saber o que você estava pensando Eu avalio o preço me baseando no nível mental Que você anda por aí usando
Raul já não está mais com Kika. Lena Coutinho é sua companheira. Raul está numa 
fase difícil, tristonha e agoniante. Volta para Salvador para tentar ficar melhor consigo 
e com a vida. Em 1985, O Raul Rock Club lança Let Me Sing My Rock And Roll, o 
primeiro e único álbum lançado e distribuído de forma independente por um fã-clube 
brasileiro.
Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! é o LP de 1987, pela gravadora Copacabana 
(Raul consegue o contrato com a ajuda de Sylvio). Era para ser lançado antes, 
mas as complicações de saúde adiaram o lançamento.
"Eu fiz esse disco pros roqueiros ouvirem, para eles não deixarem o Rock and Roll morrer..."
Cowboy Fora da Lei é o grande sucesso. Esta faz com que seu nome esteja na 
boca do povo, mesmo que Raul não estivesse nos palcos. Quem nunca cantou o 
clássico no Karaokê, ein?! Foi o terceiro Disco de Ouro do Gênio.
 Sou vacinado, eu sou cowboy
O ano é 1988. Raul lança o LP A Pedra do Gênesis . O sucesso é abaixo do esperado. Raul se separa de Lena, dai vem a depressão e o aprofundamento no alcoolismo.
O Maluco beleza está em maus lençóis. Porém, o amigo Marcelo Nova entra em cena, 
novamente (já havia feito um trabalho com Raul anos antes) para ajudar. Há 4 anos 
Raul não subia aos palcos, mas entrou no avião e partiu para Salvador. Ali se iniciou 
uma turnê de 50 shows, os últimos do astro. Essa turnê rendeu o LP A Panela do Diabo 
o quarto Disco de Ouro. Carpinteiro do Universo é uma das faixas do álbum.
rsraulseixas.blogspot.com.br.jpg 
Raul e Marcelo Nova Fonte: rsraulseixas.blogspot.com.br
O ano é 1989... 21 de agosto. Dalva, a empregada, chega ao apartamento 1003 do Edifício
 Aliança, em São Paulo, e vê Raul na cama. O Maluco Beleza foi buscado pela morte que, 
mesmo que não vestida de cetim, veio. Não o pegou no meio do copo de Whisky e não foi 
com um escorregão idiota. A morte não demorou muito a chegar, mas esperou que ele 
encontrasse a mulher que lhe foi destinada (as mulheres, né?!). A morte que matas o 
gato, o rato e o homem... essa levou Raul para o além.
Folha de SP 22-08-1989 morte de Raul01-.jpg 
Fonte: renato-curse.blogspot.com
Um ídolo da música, um verdadeiro gênio. A maior legião de fãs, loucos pelas 
suas letras, pelo seu jeito. Letras que foram desde a ópera do amor às críticas 
mais inteligentes contra o regime. Da boca do baiano saíram, talvez, as melhores 
letras de nosso rock. Letras para amantes, para anarquistas, para crianças, para 
pessoas à beira da morte.
Que artista!
Raul, meu caro, suas músicas nunca perderão atualidade. Você, Maluco Beleza, 
foi o melhor! É o melhor!
Amigo Raul, assim como você, EU TAMBÉM PREFIRO SER ESSA METAMORFOSE 
AMBULANTE.
 Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo



Fonte: 


http://lounge.obviousmag.org/isso_nao_e_um_blog/2014/04/eu-tambem-prefiro-ser.html