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terça-feira, 9 de setembro de 2014


Estudo de caso: As regras tácitas da construção nas favelas
© Solène Veysseyre 
 © Solène Veysseyre
" A construção de uma casa custa tempo e dinheiro", disse Marcio, um morador do Complexo do Alemão, uma das favelas do Rio de Janeiro, enquanto me mostrava sua casa. É por isso que uma casa leva várias gerações para ser construída: uma laje é construída, colunas erguidas e uma cobertura leve é instalada, mas isso é apenas para marcar onde o próximo pedreiro deve continuar seu serviço. "Construir uma cobertura com telhas não é um sinal de riqueza aqui - pelo contrário, significa que não se teve dinheiro suficiente para continuar construindo a casa", explica Manoe Ruhe, um urbanista holandês que morou nessa favela durante os últimos seis meses.
Como um arquiteto que sempre foi fascinado pela maneira que as pessoas vivem, tive que vir fazer uma residência no Barraco #55, um Centro Cultural no Complexo do Alemão, para aprender como seus cidadãos faziam para construir suas comunidades. E eu tinha muitas perguntas: existem regras de construção? Quais são as características em comum de cada casa? Elas seguem a mesma tipologia? Como é o interior dessas casas? Quais técnicas de construção e quais materiais são usados?
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  Fotomontagem da casa de Márcio. Imagem © Solène Veysseyre
Marcio cresceu numa casa térrea, com telhado em duas águas que seu pai construiu. Há vinte e cinco anos, ele construiu um pavimento sobre a casa; hoje voltou a colocar a mão na massa para construir um segundo pavimento pavimento.
Eduardo está numa situação parecida - está tentando construir sua própria casa sobre a casa de sua mãe: "Eu fiz duas áreas separadas, uma onde eu moro e outra menor para alugar, ou para um estúdio de música." Isso é comum na favela, onde uma família aluga diferentes pavimentos de suas casas para outras famílias ou para seus parentes. Casas voltadas para a rua principal tendem a utilizar o térreo para atividades comerciais.
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   Casa. Imagem © Solène Veysseyre
Os materiais construtivos das casas devem obedecer três critérios principais: baixo custo, leves o suficientes para serem carregados nas costas dos pedreiros e pequeno o bastante para passar pelas vielas da favela. Como resultado, todas as casas são construídas com tijolos, pilares de concreto compõem a estrutura, as lajes são de vigotas e blocos cerâmicos e a cobertura quase sempre em telhas de amianto.
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    Vigotes e tijolos. Image © Solène Veysseyre
Algumas pessoas contratam pedreiros, sobretudo para as tarefas mais específicas - como a moldagem de lajes ou a instalação do telhado. Mas muitos constroem suas casas com a ajuda de amigos, que dão uma mãozinha nos finais de semanas. Algumas vezes ocorre o escambo - Eduardo pegou os azulejos da fachada da casa de um amigo em troca de janelas.
Ao passo que não existem regras oficiais de construção, existe uma lei de respeito mútuo. Eduardo me contou que decidiu não instalar uma janela em seu dormitório pois ela abriria diretamente para a casa do vizinho. Afinal, a favela é um mundo pequeno, onde todos se conhecem e conversam com todos, logo devem ser estabelecidos acordos pacíficos entre si. Dito isso, um pavimento extra quase sempre vai obstruir a vista do vizinho - neste caso, é comum deixar um espaço de pelo menos um metro entre cada casa.
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 © Sara Ulloa
Enquanto os exteriores das casas de tipologia mais comercial podem ser pintados ou revestidos com azulejos, em geral, as casas são mais austeras: quase todas deixam o tijolo aparente para a rua, com aparelhos de ar condicionado e antenas penduradas nas paredes, uma ou duas caixas d'água instaladas nas lajes de cobertura para garantir água corrente e janelas protegidas com grades de segurança, frequentemente com desenhos ornamentais.
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 Casa. Imagem © Solène Veysseyre
Os interiores, por sua vez, são outra história. Em geral, os espaços internos são bem cuidados e limpos, pintados e decorados, e quase todos possuem grandes televisões como elemento central. Azulejos são frequentemente utilizados nas fachadas, paredes, escadarias e pisos. Está na moda agora revestir o piso da laje de cobertura - um terraço utilizado para lavar e secar as roupas e também para reuniões sociais - com azulejos que imitam o padrão do calçadão de Copacabana. As paredes internas da laje-terraço também são pintadas em cores particularmente brilhantes: azuis, verdes, roxos e amarelos.
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 Interior. Imagem © Solène Veysseyre
No entanto, os espaços internos tendem a ser um pouco escuros: os modelos típicos de janelas, feitas de policarbonato com esquadrias em alumínio, são pequenas. Isso se deve ao custo, mas também para proteger os interiores do sol e chuva intensos do clima tropical do Rio de Janeiro.
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   Vista a partir do interior. Imagem © Solène Veysseyre
À primeira vista, as favelas - para mim - eram uma massa caótica impressionante: ondas de casas que invadiam cada espaço livre. No entanto, eu estava enxergando com olhos acostumados a ver ruas delineadas, espaços abertos e organizações formais. Tive que me adaptar a um novo mundo, um mundo de ruas estreitas, vielas e escadarias inclinadas, de janelas pequenas voltadas para becos escuros onde fios elétricos se entrelaçam. Uma vez adaptado, pude ver como a favela segue suas próprias regras, sua própria lógica e seus próprios códigos.
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Corte da "A House" e seu entorno. Imagem © Solène Veysseyre

Este artigo foi originalmente escrito por Solène Veysseyre, um arquiteto francês que trabalhou em Bruxelas, Bélgica e Santiago do Chile.

Fonte:Veysseyre, Solène . "Estudo de caso: As regras tácitas da construção nas favelas" [Case Study: The Unspoken Rules of Favela Construction] 22 Aug 2014.ArchDaily. (Gabriel Pedrotti Trans.) Accessed 23 Ago 2014. http://www.archdaily.com.br/br/625874/estudo-de-caso-as-regras-tacitas-da-construcao-nas-favelas?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=27a722a919-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-27a722a919-407774757

Baixe a versão online do livro "A Obra em Aço de Zanettini"

Neste livro, o arquiteto se restringe a separar do universo da produção aquelas experiências que integram a prática e a teoria de cada projeto ou obra e que utilizam a solução em aço com aspectos relevantes dessa tecnologia. Ele mostra como cada obra ou projeto marcou aquela trajetória e de onde extraiu pontos significantes para a abordagem adotada.

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LULA, DILMA, MARINA E A VINGANÇA DE WEBER



 [Igor Suzano Machado]
A disputa pela Presidência da República no Brasil de 2014 parecia fadada à monotonia. Se os acontecimentos de meados do ano passado pareciam pode dar a ela maior agitação, as primeiras pesquisas eleitorais trataram de dissipar essa impressão. Até que, pela pior via possível, embarcada numa tragédia aérea de grande comoção, a incerteza política aportou no pleito presidencial presente, fazendo da emergência da candidatura de Marina Silva a faísca que faltava ao incêndio da disputa.
Difícil saber até que ponto a tragédia em si contribuiu para a grande ascensão de Marina nas intenções de voto. A julgar pelas primeiras sondagens de sua candidatura antes das eleições, provavelmente o que houve foi apenas uma reativação de um capital político já possuído pela candidata. Já se havia perquirido, inclusive, que a candidata era a figura política menos desgastada e mais beneficiada pelas manifestações de junho/julho de 2013. E não custa lembrar que, em momentos de desencanto com a realidade, desde o romantismo à new age, fugas pela espiritualidade e pela natureza são um caminho tradicionalmente percorrido. Logo, não é de todo surpreendente que a figura messiânica da ambientalista evangélica de origem humilde desponte como possível cabedal de uma liderança carismática, capaz de reencantar uma política desacreditada.
A emergência do carisma como forma de reencantamento da política nacional, tem-me remetido a um autor óbvio, quando se pensa neste tema: Max Weber. Um autor que sempre destacou como a vocação científica exigia saber que as descobertas da ciência estavam fadadas à superação, mas cujos ensinamentos, quase um século depois de sua morte, parecem longe de serem superados. Lembro-me de um ilustre professor que, prestes a citar Weber, antecipou a citação dizendo que iria fazer referência a um autor cujas contribuições eram em grande medida importantíssimas, ou, em alguns casos, mesmo definitivas. Parece que, como um bom clássico, Weber, intempestivo, insiste em se fazer presente também na disputa presidencial brasileira de 2014.
Na verdade, sinto que sua presença vem desde as eleições de 2010, quando se fez presente, paradoxalmente, pela sua negação. Como numa peça que se desenrola em vários atos, Weber foi um antagonista relegado a segundo plano no ato de 2010, que parece disposto a emergir mais nitidamente no ato de 2014, talvez para uma vingança imediata, talvez para uma reconciliação, ou talvez para um novo embate que prorrogue a peça até novo ato em 2018.
Lembro-me de duas lições weberianas que me fizeram estranhar a audácia da tática eleitoral do Partido dos Trabalhadores na sucessão presidencial de 2010. A primeira é que, ao contrário da tradição, o carisma não se transfere. E a segunda é que o embate parlamentar é o terreno propício para o florescimento de lideranças políticas, enquanto que a burocracia, com sua lógica de obediência sistemática a ordens de origem outra, aparece como possivelmente o mais estéril dos solos para a emergência de tais lideranças, que possuem como características fundamentais a criatividade e a responsabilidade pelas próprias decisões. Não é necessário lembrar que Dilma representava o oposto disso. Um “poste”, nos dizeres de alguns críticos, alçada do burocratismo à situação de liderança política por um genuíno agente do carisma, que acreditava ter brilho próprio suficiente para contaminar sua escolhida.
Claro que a metodologia weberiana, que utiliza os famosos “tipos ideais” ou “puros”, faz com que, quando Weber fala de políticos e burocratas e formas de dominação baseadas no carisma ou na tradição, ele se refira a personagens idealizados, radicalizando algumas de suas características típicas. Logo, o presente texto também recorre a tais extremos para ressaltar suas diferenças, sem querer ignorar a complexidade dos casos específicos, que não pode ser abordada em detalhe aqui. Ou seja: é lógico que a liderança de Lula não é puro carisma, e que uma militante de anos como Dilma não pode ser considerada exatamente uma burocrata. Ainda assim, acredito que esses traços gerais ajudem a compreender o contexto e identificar os pontos de embate entre aquelas que emergem atualmente como as principais postulantes à Presidência da República no Brasil: Dilma e Marina.
Mas voltando ao pleito de 2010, confesso que eu mesmo, como espectador ludibriado pelos protagonistas do ato, acreditei, principalmente após a vitória de Dilma, que a estratégia de Lula e do PT era correta. Afinal, os embates políticos, na mesma medida que fortalecem um candidato, também podem desgastá-lo, aumentar sua rejeição, etc. Além disso, novas tecnologias de comunicações e pesquisas de sondagem do eleitorado pareciam ser capazes de operar algum nível se não de transferência de carisma, de criação de carisma novo, com base no antigo. Contudo, autores que se sagram como clássicos não o fazem à toa e parece que em 2014 a estratégia cobra seu preço, com Weber espreitando ao fundo. Em contexto econômico e político menos favorável, cobra-se da política seu lado menos pragmático e administrativo: cobra-se dela sua dimensão criativa e de orientação dos espíritos. Enfim, retomando mais um tema caro a Weber, o desencantamento do mundo cobra uma saída. E, como Weber sabia bem, a liderança carismática que, por definição, é completamente arisca à rotinização, é, em termos de dominação política, a única que oferece essa saída.
Com isso, Dilma parece estar em apuros por ter de enfrentar algo que ela não era e não conseguir ser: uma liderança política genuína, como é o caso de Marina Silva. Um embate direto no segundo turno, pode deixar tais diferenças mais nítidas. E talvez seja já o ato da peça em que Weber se vinga de Lula e faz com que a escolhida do ex-presidente sucumba diante da “escolhida por Deus” – como nas mais genuínas lideranças carismáticas – treinada nas trincheiras parlamentares de uma Câmara dos Vereadores, uma Assembleia Legislativa e um Senado Federal.
Mesmo assim, essa não é a exposição por inteiro do quadro político atual, mesmo sob uma perspectiva weberiana. Weber, como todo clássico, também é mais complexo do que isso e sua sociologia dos partidos políticos, reconhecidos como verdadeiras máquinas racionalizadas para a obtenção de cargos públicos, caminha a socorro da atual presidenta. É esse maquinário pautado pela eficiência racional que pode atuar a favor de Dilma, já que ela conta com um suporte partidário muito mais poderoso que sua rival. E, como o primeiro debate entre os presidenciáveis já mostrou, ainda que com alguma dificuldade, também verificada no debate, Dilma pode ser treinada para superar os desafios de campanha que se lhe apresentam. Além disso, mais uma vez tendo como referência o debate da última terça, seja por capacidade própria, seja por capacitação partidária, é possível a um candidato hábil explorar os pontos fracos de Marina, inclusive por meio de uma ética da responsabilidade weberiana, não obstante o apelo que candidata possa ter para aqueles “contra tudo isto que está aí”.
Este seria o caminho de reconciliação com Weber, ou o uso de Weber contra ele mesmo, como antídoto ao seu próprio veneno, possível de ser encontrado na obra de um autor que começava entender como a política possui uma importante dimensão autoimune. Afinal, conformação à jaula de ferro, contra o apelo do potencial transformador, mesmo que possivelmente irresponsável, do carisma, não é exatamente uma postura anti-weberiana, sendo Weber um autor plenamente ciente dessas contradições. Não obstante, essa reconciliação interna a obra de Weber, por via da sociologia dos partidos e de A política como vocação – e não pela via da sociologia da dominação e deParlamentarismo e governo numa Alemanha reconstruída – poderia apenas adiar o embate para outro ato, nas eleições de 2018.
Nesse caso, a vingança de Weber poderia mesmo guardar um elemento sádico. No caso de uma, a meu ver, pouco provável, candidatura de Lula, poderia acontecer de um dos principais articuladores da candidatura anti-weberiana de Dilma ser a vítima direta de uma tentativa de reencantamento da política, para a qual, outrora, o próprio aparecera como agente privilegiado pela ação do carisma. Contudo, num contexto de passados dezesseis anos de governo de seu partido, a rotina e uma conjuntura econômica e política desfavorável poderiam corroer essa aura carismática e fazê-lo sucumbir à emergência de uma nova liderança política em ascensão. Quem sabe a própria Marina, para completar a ironia e o sadismo, ex-ministra de Lula.
Obs.: Este não é um texto a favor ou contra nenhuma das duas principais candidatas à eleição presidencial de 2014, com relação às quais eu teria divergências substantivas em ambos os lados. Não me propus aqui a discutir a substância das propostas das adversárias, única forma de se discutir esta questão. Apenas trouxe à tona algumas categorias de um autor clássico das ciências sociais que acredito serem úteis na compreensão do quadro político atual, já que, a meu ver, permitem avaliar pontos fortes e fracos das duas concorrentes, que não estão completamente subsumidos aos seus programas de governo, apesar de, obviamente, estarem, de alguma forma, relacionados a eles.
Criador de uma linguagem única, Burle Marx foi o primeiro a colocar o paisagismo em pé de igualdade com a arquitetura

Roberto Burle Marx sempre começava o dia com uma ronda pelos canteiros de seu refúgio particular, para onde se mudou em 1973 e permaneceu até sua morte, há 20 anos. Só saía do sítio Santo Antônio da Bica, nos arredores do Rio, depois de ver de perto como estavam suas plantas. “Ele rodava 60 quilômetros para chegar ao trabalho, e fazia isso diariamente”, conta Haruyoshi Ono, arquiteto que trabalhou por 30 anos com o paisagista e atualmente dirige o escritório que o amigo abriu na zona sul da cidade em 1955.
roberto burle marx, aisagismo da residência de edmundo cavanellas (1954), em petrópolis
Burle Marx comprou o sítio, hoje patrimônio da União, em 1949. Precisava de um lugar para produzir mudas e de mais espaço para sua coleção, iniciada na infância e multiplicada desde que descobriu a flora tropical brasileira no Jardim Botânico de Berlim. A transformação do sítio – descrito pelo crítico de arquitetura Paul Goldberger como “uma das mais belas paisagens criadas pelo homem no mundo” – se tornaria para Burle Marx um projeto de vida. “Ele demonstra lá o caráter único de sua arte, que era a um só tempo de grande amplitude, mas intimista”, disse o americano, após conhecer o local, em 2013.
Revelado tanto em trabalhos públicos, como o aterro do Flamengo (décadas de 1950 e 60), no Rio, quanto nos privados, como a residência Odette Monteiro (1948), em Corrêas (RJ), esse excepcional domínio do espaço é apontado por Sílvio Soares Macedo, professor titular da FAU-USP, como importante marca da prolífica trajetória do paisagista. “Burle Marx inovou ao colocar a vegetação tropical em primeiro plano. Desconstruiu o tradicional traçado de parques e praças românticos do século 19 e criou uma linguagem nova que tinha muito a ver com as formas orgânicas das artes plásticas, principalmente no que se referia ao desenho de pisos e águas e à combinação de cores das plantas”, explica.
Foi a convite de Lucio Costa, seu amigo de infância, que Burle Marx projetou os jardins do antigo Ministério da Educação e Saúde (1938), atual edifício Gustavo Capanema, no Rio – obra que se tornaria o marco do paisagismo moderno no Brasil e no mundo. Foi apresentado pelo urbanista a Oscar Niemeyer, com quem atuaria, entre outras criações emblemáticas, no Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte (1942), e no Itamaraty (1965). “Sempre que precisávamos de algo bonito, nós o chamávamos”, costumava dizer Niemeyer.
roberto burle marx, painel de azulejos de portinari e jardim suspenso do edifício gustavo capanema (1938), no rio
Igualdade 
Burle Marx foi o primeiro a colocar o paisagismo em pé de igualdade com a arquitetura, e não como complemento dela. Ele tinha uma concepção estética que unia extrema clareza com alto rigor botânico. Artista plástico por formação, era paisagista autoditada, designer de joias, tapeceiro e decorador de festas.
Chefiou diversas expedições das quais trazia vegetação ornamental para aclimatar em seu viveiro. “Quando doou seu sítio para o governo, ele deixou claro que a ideia era preservar as cerca de 3.500 espécies que aqui estão – algumas, ameaçadas de extinção”, afirma Marlon da Costa Souza, chefe da divisão técnica do Sítio Roberto Burle Marx.
Para Sílvio Soares Macedo, o fato de ter sido o arquiteto-paisagista do Estado e da elite permitiu a Burle Marx muitos recursos e total liberdade de criação, além de projeção no exterior. São de sua autoria, por exemplo, o Parque del Este (Caracas) e os jardins internos da Unesco (Paris). “Ele teve a chance de fazer trabalhos particulares belíssimos, como a residência Nininha Magalhães Lins (1974), no Rio, nos quais trabalhava a vegetação para criar planos, texturas e ambiências.” Na mesma cidade também estão importantes mosaicos de piso do paisagista, como o calçadão de Copacabana (1970).
Haruyoshi Ono acrescenta às mais importantes e preservadas obras do paisagista a Fazenda Vargem Grande (1979), em Areias (SP). “O jardim vertical do Banco Safra (1988), na rua Bela Cintra, em São Paulo, também estava entre os trabalhos mais queridos dele.”
O último projeto do qual participou, mas não chegou a ver pronto, foi o Kuala Lumpur City Centre (1994). “Para comemorar os 20 anos do parque, fomos convidados pelo governo da Malásia a fazer sua revitalização”, disse Ono. Nascido em 1943, o arquiteto, a exemplo do que fazia seu mestre, continua a ir todos os dias para o escritório.

Saiba mais

As visitas ao sítio Roberto Burle Marx devem ser agendadas pelo telefone 21 2410 1412.
Leia esta matéria também na seçãohomenagem do anuário bamboo.

Fonte: http://www.bamboonet.com.br/posts/criador-de-uma-linguagem-unica-burle-marx-foi-o-primeiro-a-colocar-o-paisagismo-em-pe-de-igualdade-com-a-arquitetura

Mobilidade urbana como um direito fundamental: 
A nova lei da Cidade do México


Cidade do México. © City Clock Magazine, via Flickr
No mês passado, a capital mexicana aprovou a Lei de Mobilidade (LM) que, além de suplantar responsabilidades entre instituições e promover alterações técnicas, deu um passo em direção a um novo foco da normativa urbana.
Desta forma, passou-se de uma normativa que estava centrada no transporte e estradas para uma lei que se sustenta na mobilidade e que a reconhece como um direito fundamental dos cidadãos. 
Conheça as medidas na continuação.
A mobilidade como um Direito Fundamental 
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  Pirâmide de Hierarquia de Mobilidade Urbana. © ITDP


A nova Lei de Mobilidade do Distrito Federal (LMDF) substituiu a Lei de Transporte e Estradas, aprovada em 2002, e estabelece que seu objetivo é “planejar, regular e gerenciar a mobilidade das pessoas e do transporte de bens”. Se a comparamos com a normativa anterior, esta não foca unicamente nos cidadãos, mas nos serviços que permitiam o deslocamento das pessoas e de carga.
Para fazer com que isto seja possível, a Lei de Mobilidade fixa prioridades para o uso das ruas e destino do orçamento que financiará a nova infraestrutura urbana. Assim, a lei considera que ao se ordenar os cidadãos dependendo da sua forma de mobilidade, obtém-se uma Pirâmide de Hierarquia de Mobilidade Urbana com cinco níveis.
Na ponta da pirâmide se localizam os pedestres, que possuem a preferência frente aos demais meios de transporte. No segundo nível estão os ciclistas, seguidos do transporte público. No quarto nível está o transporte de cargas e no último nível estão os automóveis e motocicletas.
Assim, busca-se priorizar os deslocamentos que ajudam a descongestionar as ruas e melhorar as condições do meio-ambiente e, com isto, enfrentar a rápida taxa de motorização que a Cidade do México está vivendo, onde o parque automotivo cresce anualmente 6,23% - enquanto que o crescimento da taxa demográfica representa 2,41% - essa projeção leva a crer que em 2030 a cidade tenha 70 milhões de veículos, segundocálculos realizados pelo Instituto de Políticas para o Transporte e Desenvolvimento do México (ITDP).
Sistema de pagamento integrado 
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 Cidade do México. © Eneas, vía Flickr

A criação do Metrobús, um sistema de Transporte Rápido por ônibus (BRT), e a ampliação das redes do metrô nos últimos dez anos tem melhorou as opções de mobilidade das pessoas como alternativa aos automóveis, a nova lei considera que para garantir maiores acessos é necessário criar um sistema de pagamento integrado.
Este busca garantir a comunicação dos diversos sistemas de transporte entre si, evitando que as pessoas precisem realizar tantas baldeações. Mesmo assim, para que isto seja implementado da forma mais eficiente possível, é necessário criar um sistema de pagamento único, cujo início está estimado para 2015.
Entretanto, o pagamento integrado é uma mudança que poderia ser classificada como a mais visível. Os operadores, por sua vez, devem garantir que as viagens sejam mais seguras e planejadas, melhorando, assim, a qualidade dos serviços já existentes e cumprindo com as novas normas de qualidade.
Plano Integral de Segurança das Vias 
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     Cidade do México. © Omar Omar, vía Flickr.

Levando em conta que os pedestres e os ciclistas se localizam nos níveis superiores daPirâmide de Hierarquia de Mobilidade Urbana, se faz necessário que a infraestrutura também garanta sua segurança. É por isso que a nova normativa não quer somente assegurar a mobilidade dentro da cidade, mas que esta seja feita da maneira mais segura possível.
Para tornar isto possível, a lei considera melhorar o projeto da infraestrutura urbana e aumentar as normas de segurança, o que se pretende alcançar através de novos regulamentos e a entrega das permissões de circulação.
Outro fator que as autoridades, organizações de cidadãos e diversas instituições consideraram durante a elaboração dos novos pontos da normativa é que se deve levar em conta o fator climático e os riscos de inundações e deslizamentos de terra aos quais a cidade está exposta.
Por este motivo, a lei considera que os sistemas de transporte sejam capazes de enfrentar e responder às diversas situações climáticas, visando garantir a continuidade dos deslocamentos e evitar que as pessoas recorram aos automóveis para os percursos, já que se busca fomentar uma cultura em torno da mobilidade sustentável e, com ela, diminuir as emissões contaminantes.
Para conhecer mais detalhadamente as alterações entre a Lei de Transporte e Estrada aprovada em 2002 e a nova Lei de Mobilidade, baixe o informe “Para entender a nova Lei de Mobilidade do DF”, elaborado pelo ITDP do México.
Via Plataforma Urbana. Tradução Arthur Stofella, ArchDaily Brasil.

Fonte: Constanza Martínez Gaete. "Mobilidade urbana como um direito fundamental: A nova lei da Cidade do México" 06 Sep 2014. ArchDaily. Accessed 7 Set 2014. http://www.archdaily.com.br/br/626860/mobilidade-urbana-como-um-direito-fundamental-a-nova-lei-da-cidade-do-mexico?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=956558d5a0-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-956558d5a0-407774757
Arquitetura brasileira e o espaço público
Edifício Louveira, 1946. © Pedro Kok      
Edifício Louveira, 1946. © Pedro Kok


Um dos principais aspectos do projeto moderno brasileiro foi a preocupação de como o objeto construído se comporta frente ao espaço público. Alguns clássicos deste período mostram, tendo o projeto como um ato político, que arquitetura deve fazer parte do ambiente urbano em relações francas com ruas, praças, parques e pessoas. Por esta perspectiva é possível imaginar o quanto o chão é importante para estes projetos, o ponto de contato com esta vida pública.
Edifício Louveira / Joao Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi
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Ministério de Educação e Saúde / Lucio Costa e equipe
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  FLICKR Jonas de Carvalho
MASP / Lina Bo Bardi
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 © Pedro Kok
Os arquitetos atuais não regrediram neste aspecto. Em uma sociedade que se fecha cada vez mais, alguns destes mostram, mesmo através de distintos programas, que a relação com este espaço coletivo é fundamental para que o resultado seja uma arquitetura de qualidade e uma cidade mais agradável. Nestes três anos de ArchDaily Brasil, publicamos muitos bons exemplos que assumiram como partido este conflito. Apresentamos, a seguir, uma seleção de alguns deles.
Museu da Memória / Estudio America
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  © Nico Saieh
SEHAB Heliópolis / Biselli Katchborian Arquitetos
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© Nelson Kon
Favela Nova Jaguaré - Setor 3 / Boldarini Arquitetura e Urbanismo
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  © Daniel Ducci
Conjunto Habitacional do Jardim Edite / MMBB Arquitetos + H+F Arquitetos
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© Nelson Kon
Praça das Artes / Brasil Arquitetura
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© Nelson Kon
Sede do SEBRAE / gruposp
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  © Nelson Kon




Fonte:Pedro Vada. "Arquitetura brasileira e o espaço público" 08 Sep 2014.ArchDaily. Accessed 9 Set 2014.  



Por: AUTOR: IABTOCANTINS | 
http://www.archdaily.com.br/br/627002/arquitetura-brasileira-e-o-espaco-publico?utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=e5aca17517-Archdaily-Brasil-Newsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-e5aca17517-407774757

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

As mais belas pontes


Há vinte anos não se edifica nada de significativo , original ou importante. Impressionante como nossa Curitiba ficou para trás em matéria de inovação e urbanismo. Aqui, plêiade de pontes e passarelas inovadoras recentemente inauguradas pelo mundo. Nenhuma delas por aqui.
Esta sim é uma ponte estaiada. No sul da França, o viaduto de Millau, ícone do turismo tecnológico e industrial, tem as pilastras mais altas do mundo – com 343 metros . Supera as gargantes dos rios Tarn e Dourbie, no parque nacional Grands Causses. Projeto do arquiteto britânico Norman Foster e do engenheiro francês Michel Virlogeux. Tem 2460 metros de extensão, em sete mastros com 154 tirantes.
Serpente voadora, esta ponte para pedestres, tem 274 metros de extensão, com nove ondas definidas por equação matemática determinante da sua forma. Fica a 36 metros do chão, no ápice do seu vão. Nas fotos, vista externa inferior e interna superior.
Edificada pelo consórcio RSP das empresas Arquitetura e Engenharia de Cingapura com a IJP Corporation de Londres.Criada por Henderson Waves,em Cingapura, une o monte Faver ao parque das colinas Telok Blangah
Em Luxemburgo, na cidade de Esch, bela passarela une o centro com o parque Galgenberg. Sua gestualidade volumétrica contrasta com a mistura urbana do entorno. Feita em 2009 pelo estúdio Metaform Architects, com a cooperação do escritório de engenharia T6-Ney & Partners e o estúdio de iluminação Speirs&Major Associates.
Passarela peatonal Murinzel, na cidade de Graz, centro da Áustria, obra prima do artista Vito Acconci, sugere uma arca de vidro ancorada no meio do rio. No seu interior um anfiteatro ondulado para as pessoas tomarem sol abrigadas dos ventos.
A passarela de Postiguet, no Castelo de Alicante, no sul da Espanha, é conhecida como o Nó de Alicante. Proposta dos arquitetos  Susana Iñarra Abad y Marin Marinovic, com materiais translúcidos e luzes led, de cores mutantes. Uma flecha de luz que aponta para o mar Mediterrâneo
Leia Mais sobre pontes inovadoras em Ideias.
Postado por margaritasansone em abril 28th, 2014 |