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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Segurança nas cidades: Jane Jacobs e os olhos da rua


Dando sequência à série sobre segurança nas cidades (veja também o post sobre osespaços defensáveis), este post vai tratar do conceito de “olhos da rua” de Jane Jacobs, talvez o conceito mais famoso e consagrado no que diz respeito à segurança urbana.
Segundo Jacobs, as calçadas desempenham papel fundamental para a manutenção da segurança nas cidades. Quando dizemos que uma cidade não é segura, estamos nos referindo às suas calçadas.

AS CALÇADAS E OS DESCONHECIDOS

O principal ponto da argumentação de Jacobs é essencialmente diferente do de Newman. Ela defende a presença de desconhecidos como importante:
O principal atributo de um distrito urbano próspero é que as pessoas se sintam seguras  e protegidas na rua em meio a tantos desconhecidos (JACOBS, 2000, p. 30)
Jacobs defende que a manutenção da segurança não é feita pela polícia (ou pelo menos não apenas por ela, que também é necessária), mas …
[…]pela rede intrincada, quase inconsciente, de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados. (JACOBS, 2000, p. 32)
As baixas densidades não são a resposta. Os subúrbios americanos, vistos por muitos como lugares seguros, nem sempre o são. Jacobs sustenta tal afirmação com dados sobre Los Angeles (de 1958), mostrando que, apesar das baixas densidades, apresenta taxas muito altas de criminalidade.

AS TRÊS CONDIÇÕES PARA A SEGURANÇA

Jacobs propõe, então, três condições para que haja pessoas suficientemente nas ruas de forma que elas exerçam a vigilância natural sobre os espaços públicos e, com isso, diminuam a violência:
  1. Deve ser nítida a separação entre o espaço público e o espaço privado;
  2. Devem existir os olhos da rua;
  3. A calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente.

SEPARAÇÃO ENTRE ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO

Esse requisito não é muito aprofundado por Jacobs. Entretanto, ela diz explicitamente que a área a ser “vigiada” precisa ter limites claros e praticáveis. É uma crítica direta aos ideais modernistas, então em voga, de construir edificações sobre pilotis soltas sobre amplas áreas verdes, de forma que os espaços públicos permeassem todo o bairro. Jacobs parece entender que tal configuração é prejudicial à segurança porque “borra” os limites do que é visto como responsabilidade de cada pessoa no que diz respeito à vigilância natural.

OLHOS DA RUA

Os olhos da rua são as pessoas que, consciente ou inconscientemente, utilizam o espaço público e/ou costumam contemplá-los de suas casas, exercendo uma vigilância natural sobre o que ali acontece. Jacobs cita como contra-exemplo alguns edifícios muito verticalizados, em que os corredores eram inacessíveis aos olhos, apesar de serem de acesso público, e por isso sofriam enormemente com a depredação e a violência.
Quando as ruas não possuem “olhos”, tornam-se inseguras. (Condomínos fechados em Campo Grande – MS)
Sob a aparente desordem da cidade tradicional, existe, nos lugares em que ela funciona a contento, uma ordem supreendente que garante a manutenção da segurança e a liberdade. É uma ordem complexa (JACOBS, 2000, p. 52).
É importante que os edifícios tenham relação com a rua, para poder existir a vigilância natural.
Portanto, os edifícios precisam oferecer a possibilidade de contato visual entre o interior e o espaço público, para que os olhos possam atuar. Esse ponto é apenas rapidamente abordado por Jacobs, ao menos de forma explícita, mas fica claro na sua descrição sobre como os olhos da rua agem em determinadas áreas da cidade. Confusões, brigas e outros incidentes nesses bairros são rapidamente controladas ou inibidas pela ação de moradores que observavam o que acontecia de dentro de suas casas. Além disso, a necessidade de contato das edificações com o espaço público é um dos pontos de consenso entre Jacobs e Newman que, de resto, possuem concepções diferentes sobre os requisitos para a segurança nas cidades.

Os edifícios devem possibilitar os “olhos da rua”. Fonte: Flickr

USUÁRIOS TRANSITANDO ININTERRUPTAMENTE

Esse requisito está intimamente ligado ao anterior, uma vez que uma quantidade significativa de pessoas transitando e utilizando as ruas é condição necessária para que haja olhos da rua. Tanto no sentido direto quanto indiretamente.
No sentido direto porque as próprias pessoas que usam e transitam pela rua acabam exercendo uma vigilância natural. Ruas com movimentação de pessoas tendem a tornar-se mais seguras (pelo menos até um certo nível de movimentação, uma vez que ruas com um número excessivo de pessoas pode favorecer alguns tipos de furtos. Mas Jacobs não trata desse aspecto). Jacobs descreve o que ela chama de “balé das ruas”, em que vários atores, com os mais diversos propósitos, saem às ruas em horários diversificados para as mais diferentes atividades. Essas atividades interagem entre si e de alguma forma acabam complementando-se, formando uma teia de interação social e cuidados mútuos.
Espaços públicos
Ruas bem movimentadas tendem a ser mais seguras. Fonte: (LYNCH, 1960)
Indiretamente, o movimento de pessoas atua como atrator para os olhares de quem não está na rua, uma vez que as pessoas costumam gostar de olhar quem passa.  Ruas desertas dificilmente atrairão a atenção de quem está dentro das edificações, o que acaba acentuando a sensação de insegurança.

ALGUMAS OBSERVAÇÕES ADICIONAIS

As idéias de Jacobs, apesar de terem sido formuladas há meio século, ainda parecem ser válidas, no seu conjunto, para as cidades atuais. A questão da interação entre estranhos e moradores locais ainda permanece significativa (vide o problema doscondomínios fechados), e longe de uma solução satisfatória. Os olhos da rua, uma das suas principais contribuições, permancece mais válido que nunca e, no entanto, cada vez mais presenciamos situações em que as edificações viram-se de costas para o espaço público, renegando-o. Talvez o “clima” de cidade pequena esteja irremediavelmente perdido na maioria dos lugares, mas a possibilidade de interação social e de manutenção coletiva das condições de segurança parecem viáveis.
Seria interessante discutirmos, nos comentários, alguns exemplos concretos que os leitores conheçam e os quais queiram compartilhar. Será que essas ideias da Jacobs aplicam-se a todos os lugares? Há exceções? Comentem!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
LYNCH, Kevin. The image of the city. Cambridge: The M.I.T. Press, 1960.
NEWMAN, Oscar. Creating defensible spaces. Washington, DC: U.S. Department of Housing and Urban Development, 1996.

Fonte: http://urbanidades.arq.br/2010/02/seguranca-nas-cidades-jane-jacobs-e-os-olhos-da-rua/

Jane Jacobs e os parques de bairro

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Em um post anterior sobre espaços públicos, já comentei um pouco sobre as teorias de Jane Jacobs sobre os requisitos para que as praças e parques públicos tenham vitalidade. Suas idéias são tão importantes para o Urbanismo e têm tanto impacto sobre o modo como entendemos a cidade que vale a pena aprofundar um pouco esse assunto.
Uma das suas principais contribuições foi desmantelar uma série de “verdades” consideradas intocáveis à época e que ainda hoje são consideradas válidas por uma boa parcela da população (e, infelizmente, dos tomadores de decisão). Boa parte de sua crítica teve como alvo as idéias modernistas, mais especificamente Le Corbusier e Ebenezer Howard.
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Croqui de Le Corbusier (Fonte: Benevolo, 1999) – Jacobs criticava a ideologia modernista que pregava grandes áreas verdes e edifícios isolados, com segregação de usos e separação entre a circulação de pedestres e veículos.
Segundo Jacobs, a ideologia modernista era equivocada porque defendia que…
…a rua é um lugar ruim para os seres humanos; as casas devem estar afastadas dela e voltadas para dentro, para uma área verde cercada. Ruas numerosas são um desperdício e só beneficiam os especuladores imobiliários, que determinam o valor pela metragem da testada do terreno. A unidade básica do traçado não é a rua, mas a quadra, mais particularmente a superquadra. O comércio deve ser separado das residências e das áreas verdes. (Jacob, 2001, p. 20, criticando os ideais modernistas).
Com relação aos parques urbanos, ela também construiu um argumento poderoso para destruir alguns mitos:
Espera-se muito dos parques urbanos. Longe de transformar qualquer virtude inerente ao entorno, longe de promover as vizinhanças automaticamente, os próprios parques de bairro é que são direta e drasticamente afetados pela maneira como a vizinhança neles interfere. (Jacob, 2001, p. 104)

Seu argumento é de que não basta um parque existir para garantir vitalidade para si mesmo e para o entorno. Não é possível obter valorização de um bairro simplesmente adicionando-se áreas verdes sem nenhum critério. Para que um parque de bairro funcione ele precisa ter 4 elementos:
  1. Complexidade;
  2. Centralidade;
  3. Insolação;
  4. Delimitação espacial.
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complexidade é o elemento mais trabalhado por ela e, aparentemente, o mais importante. Nesse caso, a complexidade refere-se à diversidade de usos e de pessoas no entorno do parque, que conferem diversidade de horários e de propósitos para sua utilização.
A variedade de usos dos edifícios propicia ao parque uma variedade de usuários que nele entram e dele saem em horáriosdiferentes. Eles utilizam o parque em horários diferentes porque seus compromissos diários são diferentes. Portanto, o parque tem uma sucessão complexa de usos e usuários. (Jacobs, 2001, p. 105)
A complexidade envolve também riqueza espacial, criada por elementos tais como diferenças de nível, visuais interessantes, perspetivas variadas, agrupamentos de árvores, etc.
centralidade refere-se a um elemento espacial central ou, mais precisamente, com hierarquia superior aos demais, para atuar como referência no espaço da praça. Ele atua como polarizador dos usos e da legibilidade do espaço, sendo reconhecido por todos como o centro da praça.
insolação provavelmente é mais importante para os países mais frios, apesar de que mesmo no Brasil não é interessante que os parques sejam sombreados pelos edifícios vizinhos. Ao contrário, é desejado que os parques propiciem tanto boas áreas de sombra para o verão como áreas ensolaradas para os dias de inverno.
pracas_01Por fim, a delimitação espacial segue a linha do que Camillo Sitte defendia no final do século XIX, ou seja, a noção de que os espaços abertos devem ser conformados pelos edifícios, e não serem simplesmente formados a partir dos resíduos deixados pelas configurações dos espaços fechados. Não devem, tampouco, formar imensas áreas vazias sobre as quais os edifícios se assentam, como defendia o Modernismo.
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É preciso que as praças possuam delimitação espacial fornecida pelos espaços edificados ao seu redor.
É interessante notar como as teorias de Jacobs parecem válidas ainda hoje, apesar de terem sido desenvolvidas há mais de 4 décadas e em uma realidade completamente diferente da que temos hoje no Brasil. Se observarmos atentamente as praças e espaços públicos das cidades brasileiras vamos chegar à conclusão que as teorias são bastante válidas para a nossa realidade. É muito comum vermos praças relativamente bem arrumadas e arborizadas que ficam o dia todo deserto, sem praticamente ninguém utilizando. Não por acaso, a maioria deles fica em bairros de classe média/média-alta quase que exclusivamente residenciais.
Por outro lado, em bairros em que há uma maior diversidade de usos, as praças tendem a ser mais utilizadas e a ser mais interessantes.

Fonte: http://urbanidades.arq.br/2007/09/jane-jacobs-parques-de-bairro/
O que é Parque Linear?


Os parques lineares caracterizam-se como uma intervenção urbanística associadas aos cursos d'água, principalmente aqueles associados ao tecido urbano, e tem como principal objetivo proteger e recuperar o ecossistema ligados aos corpos d'água, conectar áreas verdes e espaços públicos, controlar enchentes e propiciar áreas verdes destinadas a atividades culturais e de lazer.


     O conceito de parques lineares,  seus objetivos e sua importância


Na Legislação Ambiental brasileira, os fundos de vales e o entorno dos cursos d’água são analisados como Áreas de Proteção Permanentes (APPs) e pela regulamentação não devem ser locais de edificações. Entretanto, pela imponente urbanização e pela falta de controle, a realidade tem sido outra: as margens dos rios são diversas vezes o que sobrou nas cidades para a população sem recursos como área de ocupação. Dessa forma, lixo e esgoto são despejados nas águas, tornando-as insalubres e repletas de riscos para a saúde.
A implantação de parques lineares é uma forma de impedir a contaminação destes cursos d’águas que cortam as áreas urbanas. O conceito desses parques está diretamente relacionado com a sua forma, como o próprio nome mostra, os parques seguem uma "linha" ao longo das margens da cidade, como os rios e córregos, são áreas verdes no meio das áreas urbanas que acompanham os cursos d’água. Alguns de seus objetivos são proteger ou recuperar ecossistemas, impedir enchentes, reconectar áreas verdes, melhorar a qualidade de vida das populações que vivem ao entorno dos rios, impedir a poluição dos afluentes e, principalmente, restaurar sua importância ambiental e tornar um cenário de boa convivência da natureza e das cidades envolvidas.

MAIS PESQUISAS: 
REVISTA LAB VERDE.pdf


Fonte: https://sites.google.com/site/parqueslineares/

10 razões pelas quais uma cidade precisa de planejamento urbano

O site Urbantimes.co publicou um artigo com 10 razões pelas quais uma cidade precisa de planejamento urbano.
Este texto aponta como o planejamento pode ajudar em muitos aspectos as autoridades locais a governar um território. “Um bom planejamento pode ajudar os líderes da cidade a impulsionar transformações construtivas.”
As razões a seguir:
1. Um plano para o crescimento
As cidades prósperas têm uma visão de que devem seguir através de um plano para alcançar um desenvolvimento de maneira ordenada. Não se trata de um controle centralizado, mas de uma forma de antecipar as necessidades, coordenar esforços e estabelecer um caminho para um horizonte que se constrói de forma coletiva. São conhecidos os grandes esforços para melhorar a habitabilidade, a prosperidade e a igualdade que tem espaço em várias cidades. Tal impacto transformador não é um produto da espontaneidade, mas de um planejamento construtivo.
2. Uma cidade planejada é uma cidade bem preparada
Antecipar o futuro nos permite estar mais preparados hoje. Para manter-se na vanguarda dos desafios, os líderes da cidade devem estar dispostos a ver as oportunidades e gerenciar os riscos. Com informações confiáveis sobre a situação atual, é possível ser capaz de fazer conexões entre a visão em longo prazo e ações em curto prazo. As cidades que não planejam ativamente seu futuro provavelmente ficam para trás. 
3. O planejamento melhora o impacto
Os líderes locais são elogiados por oferecer melhorias. Dada a magnitude dos desafios que as cidades enfrentam, é pouco provável que todas as melhorias desejadas aconteçam de uma vez. As cidades bem sucedidas constroem planos pela realização de projetos prioritários que estão alinhados com a visão em longo prazo. O planejamento identifica questões urgentes com os recursos disponíveis e assegura que as iniciativas não sejam redundantes ou tenham direcionamentos diversos.
4. Uma forma urbana adequada é muito importante
Moradia, emprego, acessibilidade e segurança são as principais preocupações dos habitantes urbanos. Estes temas estão fortemente relacionados à forma urbana. As políticas adequadas de densidade, uso do solo, espaço público e projeto de infraestrutura e serviços podem fazer a diferença na qualidade de vida a um preço justo. O projeto de um modelo espacial que responda as preocupações dos cidadãos é um meio para proporcionar uma cidade melhor.
5. Um bom planejamento urbano tem impacto positivo na economia urbana
Certificar-se de que há abundância de empregos em uma cidade é uma prioridade para os líderes locais. As cidades competem para atrair investimentos com o objetivo de gerar atividade econômica. O planejamento coordena a localização e distribuição espacial das atividades econômicas e facilita a captura de valor do investimento público.
6. Um plano de propriedade coletiva permite a construção de relacionamentos duradouros
Os líderes da cidade que são capazes de ver a oportunidade em uma boa urbanização devem envolver todas as partes interessadas possíveis para alcançar um bom objetivo. Uma estrutura de participação coletiva dá aos líderes locais um roteiro para alcançar os cidadãos, dinamizar os departamentos e mobilizar os associados para que se envolvam na realização de uma mesma visão.
7. Uma perspectiva territorial mais ampla ajuda as cidades a alcançar economias de escala
As cidades não operam do vazio. Sua presença está associada a uma região com a qual compartilha recursos e oportunidades. Ao invés de apenas olhar dentro dos limites municipais, as cidades que planejam juntas podem ter uma vantagem competitiva ao realizar uma coordenação entre municípios. Além da eficácia espacial, isto permite ter economias de escala para aumentar seu poder de negociação.
8. Continuidade gera credibilidade
As cidades bem sucedidas garantem a continuidade de seus planos mesmo que os ciclos políticos mudem, ao perceber que uma rota estável tem mais credibilidade. O investimento é em longo prazo e se beneficia com as condições previsíveis. O ordenamento do território é um trunfo para reduzir a incerteza e assim sua continuidade contribui para a criação de oportunidades transparentes para uma sociedade comprometida.
9. Antecipar é mais efetivo e melhor para a economia do que reagir a problemas
Os líderes locais têm a oportunidade de conduzir a mudança construtiva se afastando do laissez faire. As cidades que planejam a escala têm condições de antecipar ao invés de reagir, portanto, são capazes de enfrentar a raiz do problema. Padrões espaciais não planejados são ineficientes e necessitam de mais recursos para se manter, e o alto custo de tomar decisões ruins e não tomar nenhuma decisão pode fazer com que os erros sejam irreversíveis.
10. Um plano coerente de comunicação
A comunicação é um elemento chave para as cidades, mas a oportunidade de conectar e transmitir as vantagens de uma cidade pode ser prejudicada por mensagens vazias ou contraditórias. Impulso e apoio aumentam quando o líder local pode demonstrar que o progresso é consistente com a visão coletiva e o plano de ação.

Via ArchDaily Brasil. Tradução de Naiane Marcon.
Fonte: http://www.cidadessustentaveis.org.br/noticias/10-razoes-pelas-quais-uma-cidade-precisa-de-planejamento-urbano
MORTE E VIDA DE GRANDES CIDADES

Neste livro, Jane Jacobs escreve sobre o que torna as ruas seguras ou inseguras; sobre o que vem a ser um bairro e sua função dentro do complexo organismo que é a cidade; sobre os motivos que fazem um bairro permanecer pobre enquanto outros se revitalizam. A autora explica o papel benéfico das casas funerárias e das janelas das moradias, os perigos do excesso de dinheiro para a construção e os perigos da escassez de diversidades.

Vida e Morte de grandes cidades


Olá pessoal, nas últimas semanas estamos tendo nas aulas de Cidade e Habitação um debate muito bom sobre o livro Vida e Morte de grandes cidades. Andei pesquisando pela internet e achei o texto abaixo no site http://www.vitruvius.com.br, então resolvi compartilhar nesse blog.


Quando Jane Jacobs lançou o seu primeiro livro, em 1961, aos 45 anos de idade, talvez não tivesse idéia do impacto que sua obra teria na consciência dos urbanistas e políticos e nos rumos do planejamento urbano.
Uma conferência em Harvard em 1956 e artigos na imprensa preparam o caminho para a grande receptividade de seu Death and Life of Great American Cities(cujas traduções omitem do título - como a edição brasileira - a especificidade norte-americana de suas análises), que se tornou uma referência crítica seminal contra as doutrinas modernas do urbanismo de meados do século 20.
Jornalista autodidata, colaboradora e mais tarde editora associada da revista Architectural Forum, um marido arquiteto - a quem credita sua cultura urbanística -, Jacobs mantinha um distanciamento crítico do cotidiano dos urbanistas que lhe permitiu escrever um dos mais belos libelos contra as palavras-de-ordem do urbanismo moderno. Ou mais precisamente, das práticas urbanísticas em voga nos Estados Unidos, cujas origens Jacobs identificava nas propostas de Ebenezer Howard e suas cidades-jardins (1898), nas idéias contidas na Ville Radieuse (1935) de Le Corbusier e, em menor grau, o movimento City Beautiful (1893) ideado por Daniel Burnham.
O contexto dos ataques de Jacobs ao urbanismo moderno ortodoxo era o programa norte-americano de renovação urbana das áreas centrais das cidades, do fazer tábula rasa de setores urbanos consolidados, substituídos por megaprojetos de reurbanização nos quais uma arquitetura burocrática ou monumental, viadutos, elevados, vias expressas e florestas de concreto configuravam a nova paisagem das grandes cidades. Fenômeno que extrapolou as fronteiras norte-americanas, banalizando-se enquanto intervenções urbanas tardias em cidades como Caracas ou São Paulo nos anos 1970.
Contra o bucolismo das cidades-jardins, Jacobs defendia a densidade das metrópoles. Todavia, não a ordenada metrópole ideada por Le Corbusier - cujo exemplo mais vigoroso seria Brasília -, mas a cidade tradicional.
Que cidade tradicional, porém?
O sabor dos relatos de Jacobs reside em sua fluente escrita de observadora não-contaminada pelo jargão dos urbanistas e sua vivência como moradora do Greenwich Village em Nova York. Numa etnografia jornalística, a autora procurou identificar no cotidiano de grandes cidades norte-americanas as razões da violência, da sujeira e do abandono, ou o contrário, a boa manutenção, a segurança e a qualidade de vida de lugares que constituíam a cena real das metrópoles, em simetria ao esquematismo dos modos de vida que os planejadores previam em seus modelos urbanos ideais.
Ao contrário das fisicamente imaculadas e espiritualmente vazias proposições modernistas, o caos urbano e o microcosmo dos bairros constituíam uma vida rica e densa de significados. Do registro empírico das maneiras de se apropriar dos lugares (os subtítulos dos textos são diretos: "Os usos das calçadas: segurança, contato, integrando as cri-anças..." etc), Jacobs formulou a crítica aos axiomas do planejamento (separação das funções/zoneamento, a lógica da circulação pelo exaltação do sistema viário, etc) e seu reverso, a prescrição de soluções.
A principal e duradoura lição pregada por Jacobs é a necessidade da diversidade urbana: funções que gerem presença de pessoas em horários diferentes ("a necessidade de usos principais combinados" é um capítulo) e em alta concentração, valorização de esquinas e percursos ( "a necessidade de quadras curtas", outro capítulo), edifícios variados e de diferentes idades ("a necessidade de prédios antigos"), e ressaltando outras medidas profiláticas para uma melhor qualificação urbana: "a subvenção de moradias", "erosão das cidades ou redução dos automóveis", "ordem visual: limitações e potencialidades", "projetos de revitalização", etc.
A clareza da escrita e as posições antimodernistas de Morte e Vida de Grandes Cidades trouxeram grande prestígio à autora, tornando-a uma leitura obrigatória nos cursos de arquitetura e urbanismo, geografia e ciências sociais. Parte de suas idéias lograram grande audiência nos debates urbanísticos dos anos 1970/80, sobretudo com o advento da discussão pós-moderna e sua apologia da diversidade, ao ponto de alimentar tendências díspares do urbanismo como as muitas formas de ativismo comunitário como no discurso de frentes como a Nova Direita norte-americana.
Jacobs é considerada a "mãe" do neoconservador New Urbanism, para desespero de seus defensores, que creditam à vulgarização das idéias da jornalista pelas bobagens a ela atribuídas. David Harvey, anotando sobre o emergir de códigos simbólicos de distinção social na arquitetura e no urbanismo pelo enaltecimento da ornamentação, do embelezamento, pela decoração, comentava:
"Não tenho nenhuma certeza de que tenha sido isso que Jane Jacobs tinha em mente quando criticou o planejamento urbano modernista."
Jane Jacobs mudou-se com a família para Toronto em 1968 (temendo o envolvimento dos filhos na guerra do Vietnã) e tornou-se cidadã canadense em 1974. Aos 84 anos de idade, lançou em março passado seu sexto livro, The Nature of Economies. Mas o prestígio internacional, que a tornou uma guru do planejamento urbano, veio de Morte e Vida de Grandes Cidades, um relato fascinante de uma inquieta ex-moradora da rua Hudson em Nova York. Um livro que, decorridos quase 40 anos de seu lançamento, trouxe retratos e episódios de recantos de cidades norte-americanas que poderiam ser depoimentos de uma época como as de Charles Dickens sobre a Londres da segunda metade do século 19 - e provavelmente de uma São Francisco, Nova York ou Boston que não existem mais.Hugo Segawa

TINHA QUE SER O CHAVES?

Seu Madruga, lá do céu, não mais afirma, mas pergunta: tinha que ser o Chaves? 
Chiquinha abre o berreiro. Dona Florinda é consolada pelo Professor Girafales, que 
não esconde as lágrimas. Quico, ao pé do barril, deixa um sanduíche de presunto e 
chora. Dona Clotilde, ao lado de Seu Madruga, desmaia. Sr. Barriga espera receber 
uma pancada, porém nada - também chora. Há, pela primeira vez, tristeza na Vila. 
Nas terras de Chapolin Colorado, as pessoas se perguntam: E agora, quem poderá 
nos defender? 
Na América e no mundo, crianças, jovens e adultos se juntam em coro: pipipipipipi...


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Fonte: Lr21
Um mestre se foi. Roberto Gómez Bolaños, nascido em 1929, 
foi pai para todos os personagens que criou e educador para todas 
as idades que o assistiram (e assistem).
Um gênio que construiu perfeitamente cada personagem (claro, com a ajuda de 
todo o elenco), procurando fazer com que cada um fosse marcante, mesmo de 
forma simples e pontual.
Cada um de nós deve gratidão a Bolaños.
Falo por mim: só sei o que é uma "epístola" (é uma carabina, só que menorzinha) 
por causa do Chaves; aprendi que "as pessoas boas devem amar seus inimigos"; 
aprendi que o inglês é mais fácil do que a gente pensa; aprendi que dividir o 
pouco que temos com nossos amigos é muito melhor do que ser egoísta; aprendi 
que a gente nem precisa de muito pra dar boas risadas e fazer grandes amizades; 
aprendi que o drama das crianças de rua é muito sério e que precisamos ajudá-las. 
Aprendi, também, que super-herói é aquele que, mesmo com medo, enfrenta seus 
desafios e que o feito mais admirável é arrancar gargalhadas de todos.
Nem tem muito o que dizer. Cada um carrega suas memórias, sua gratidão 
e seus momentos felizes com o Chavinho.
Aqueles momentos de ligar a TV e ver que está passando Chaves. Daí, então,
ficar horas sentado no sofá rindo como se fosse a primeira vez que assistia o 
episódio do leite de burra, do Héctor Bonilla, da morte do Seu Madruga e todos os outros.
Ser criança (jovem ou adulto) e esperar o dia em que repetissem o episódio de Acapulco 
(que considero o melhor); torcer para que o Chaves não fosse acusado de ladrão; tentar saber 
se era o gato ou o Quico; decorar "a que parece de limão, é de groselha e tem gosto de 
tamarindo. A que parece de groselha, é de tamarindo com sabor de limão. E a que parece 
de tamarindo, é de limão com sabor de groselha"; imaginar como o Chapolin iria aparecer 
no episódio; rir e rir no capítulo da "Buzina Paralisadora"... e muito mais.
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Fonte: Terra
Um mestre.
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Fonte: Terra
Um ídolo.
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Fonte: Entrelinhablog
Um gênio.
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Fonte: Folha
"Foi um bom companheiro, amigo, irmão e um dos melhores escritores dos 
últimos tempos no México" Ruben Aguirre
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Fonte: Terra
"Obrigado por fazer tanta gente feliz e por todos os momentos 
maravilhosos que compartilhamos no grupo. Descanse em paz, Roberto" 
Maria Antonieta de Las Nieves
(é uma carabina, só que menorzinha.jpg 
Fonte: Terra
"Roberto, não se vá, você permanece em meu coração e nos corações de 
todos aqueles a quem você levou alegria. Adeus 'Chavinho', até sempre" Edgar Vivar
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Fonte: Lasegunda
"Para ele, todo meu agradecimento, minha tristeza e minha dor. 
Somente quando se vive a realidade de uma ausência, se descobre o 
verdadeiro sentimento de uma amizade e um grande mestre. Que descanse 
em paz!!! Hoje me sinto triste por seu falecimento." Carlos Villágran
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Fonte: Impedimento
...
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Fonte: Terra
Prometemos despedirmos-nos sem dizer "adeus" jamais... Pois 
haveremos de nos reunirmos.
Você morreu sem perder a vida.
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Fonte: Terra
1929 - 2014
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/isso_nao_e_um_blog/2014/11/
tinha-que-ser-o-chaves.html