Translate

segunda-feira, 3 de novembro de 2014






Conjunto Paulo Freire, em São PauloCrédito: Observatório das Metrópoles
Em que medida a política nacional de habitação formulada a partir de 2003 para a autogestão viabilizou a produção de habitação de interesse social? Esse é o ponto de partida da tese “Autogestão e Habitação: entre a utopia e o mercado”, de Regina Ferreira, mais um resultado do INCT Observatório das Metrópoles. O trabalho traz o mapa dos “empreendimentos” contratados por programas como Crédito Solidário e MCMV Entidades, identificando suas vinculações com movimentos de moradia e reforma urbana organizados nacionalmente.
A tese “Autogestão e Habitação: entre a utopia e o mercado”, de Regina Fátima Ferreira, foi defendida no primeiro semestre de 2014 no âmbito do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ), sob a orientação do professor Orlando Alves dos Santos Júnior. Regina foi conselheira do Conselho das Cidades e militante do movimento de reforma urbana, dessa experiência –  e mais da sua participação na Rede Nacional INCT Observatório das Metrópoles no âmbito do GT Moradia, coordenado pelos professores Adauto Cardoso e Luciana Lago –, surgiu o interesse de investigar as experiências de habitação autogestionária no Brasil.
Leia também:
Livro: O Programa MCMV e seus efeitos territoriais
Livro: Autogestão habitacional no Brasil
A sua tese analisa a política nacional de habitação para autogestão formulada a partir de 2003 e, como desdobramento, a produção de habitação de interesse social realizada por cooperativas e associações comunitárias vinculadas aos movimentos de moradia e reforma urbana. E busca identificar que fatores facilitaram e quais bloquearam a implementação dos programas e discutir em que medida esta política responde à utopia de apropriação coletiva do espaço e realização do direito à cidade, conforme concebida na década de 1980 pelo movimento de reforma urbana.
Regina Ferreira explica que a metodologia utilizada envolveu revisão bibliográfica, entrevistas semi-abertas com lideranças nacionais dos movimentos sociais urbanos, levantamento de dados sobre os programas junto à Secretaria Nacional de Habitação, levantamento dos empreendimentos ligados aos movimentos nacionais urbanos, levantamento de dados junto à secretaria do Fórum Nacional de Reforma Urbana, levantamento das resoluções das Conferências e do Conselho das Cidades.
Movimentos sociais e a luta pela moradia: percurso histórico
A tese mostra que na década de 1980, os movimentos de moradia se articularam com outras organizações da sociedade (sindicatos, universidades, organizações não governamentais) ampliando a luta pela terra e pela moradia para a luta pelo direito à cidade, constituindo o movimento nacional de reforma urbana (MNRU), posteriormente denominado Fórum Nacional de Reforma Urbana, que se mantém desde então, organizado. Na plataforma da reforma urbana no Brasil destacam-se tanto as lutas pelo acesso universal aos serviços urbanos através de políticas urbanas redistributivas, quanto pela apropriação criativa do espaço urbano. “O caráter político emancipatório da rede de reforma urbana está expresso nas lutas dos movimentos sociais para a realização de processos autogestionários nas cidades e para a participação social nos processos de planejamento e gestão municipal, materializando o que David Harvey anunciaria como a utopia de espaço e de processo”, explica Regina e completa:
“A concepção do direito à cidade, conforme enunciada na década de 1960 por Lefèbvre (2008), envolvendo não só o direito ao trabalho, à instrução, à educação, à saúde, à habitação, aos lazeres, à vida, mas também o direito à criação, à atividade participante e à apropriação da cidade, influenciou a trajetória deste movimento, que se mantém atuante desde o processo de redemocratização e construção de uma nova Constituinte (1987). Durante este período, o movimento de reforma urbana logrou a conquista de marcos legais na direção do direito à cidade como a inclusão, em 2000, do direito à moradia como um direito social fundamental na Constituição Federal do Brasil e a aprovação do Estatuto da Cidade, em 2001, referência para a regulação do uso do solo e a implementação de uma política fundiária urbana”.
As conquistas legais, no entanto, não representaram uma mudança substancial na realidade urbana brasileira, notadamente marcada pela segregação socioespacial e pelas desigualdades intraurbanas, metropolitanas e regionais. É neste contexto que vão se inserir as lutas dos movimentos de moradia e reforma urbana tanto por políticas de habitação de interesse social voltadas para grupos autogestionários quanto pela radicalização da participação social nos processos de formulação e gestão das políticas urbanas, visando à construção de uma utopia de espaço e de processo.
“A atuação dos movimentos sociais urbanos para a garantia do acesso à moradia digna e a demanda por recursos, programas e ações que financiassem a produção autogestionária da habitação manteve os movimentos unificados desde o processo de redemocratização e foi fundamental para a retomada dos investimentos do Estado na política habitacional e na inclusão de associações e cooperativas como agentes proponentes e executores da política nacional de habitação”, argumenta a pesquisadora.
Segundo ela, a eleição de Lula para presidente em 2002 gerou uma grande expectativa quanto às possibilidades de se avançar na direção da implementação de processos autogestionários nas cidades. De fato, em 2003 teve início um processo de conferências públicas, nas três esferas de governo (municipal, estadual e federal) para a discussão das diferentes políticas. A 1ª Conferência das Cidades inaugurou a discussão participativa das políticas urbanas e resultou na criação do Conselho Nacional das Cidades, com representação dos diversos segmentos sociais que atuam na cidade.
Já a construção de uma política habitacional voltada à autogestão foi um processo lento, onde os movimentos sociais foram quebrando, pouco a pouco, as resistências tanto do poder legislativo, quanto do poder executivo, a partir da sua atuação nas esferas institucionalizadas (Conferências, Conselhos, audiências públicas), mas, sobretudo, a partir da atuação nas mobilizações nacionais (Caravanas pela Moradia, Jornadas de Lutas), pressionando para que a autogestão na produção de habitação de interesse social (HIS) viesse a se estabelecer definitivamente na agenda pública.
Em 2004, foi criado o Programa Crédito Solidário; em 2008, foi lançada a Ação de Produção Social da Moradia; e, em 2009, o Programa Minha Casa Minha Vida Entidades; este último, o principal programa hoje em funcionamento. Como resultado da implementação destes programas, é possível identificar, desde 2005, experiências de provisão habitacional lideradas por associações, cooperativas e grupos populares, em vários estados brasileiros.
Habitação autogestionária, direito à cidade e mercado
Regina Ferreira aponta que, embora a produção de habitação de interesse social realizada pelos movimentos urbanos tenha pouco impacto na quantidade de unidades de habitação de interesse social produzida quando comparado com a produção do mercado, a produção de HIS autogestionária estaria se constituindo em um processo de legitimação dos próprios movimentos junto à sua base na sua atuação em torno da política urbana, em geral, e da política de habitação, especificamente. “Há que considerar, ainda, que a inserção dos movimentos nos programas públicos habitacionais tenderia a deslocar o foco da atuação dos movimentos para a produção específica da moradia, diminuindo em parte sua autonomia com relação ao Estado”.
Como objetivos específicos do trabalho, pretendeu-se:
- Discutir a questão da habitação tanto como um problema social, tendo o Estado um papel central na formulação de uma política pública específica que dê conta do problema, quanto como um elemento em potencial de organização e inserção social;
- Resgatar a longa trajetória realizada pelos movimentos sociais urbanos, desde a década de 1980, para a construção da política nacional de habitação e a incorporação de grupos, associações e cooperativas como agentes promotores da política habitacional;
- Identificar a produção habitacional que vem sendo feita a partir dos programas federais criados desde 2004 para a autogestão e discutir os principais gargalos existentes hoje na implementação dos programas habitacionais voltados para a autogestão;
- Identificar as concepções de autogestão habitacional que os movimentos de moradia e reforma urbana no Brasil defendem, bem como suas percepções quanto ao que vem sendo posto em prática a partir dos programas existentes e a correspondência ou não com o ideário da autogestão.
No Capítulo 2 “Habitação como uma questão social”, por exemplo, a pesquisadora buscou identificar como a questão habitacional se constitui como um problema social, ou seja, não como um problema individual, mas de uma coletividade, o que tornou obrigatória a intervenção do Estado. “De fato, o problema habitacional inaugurou historicamente a intervenção do Estado nas cidades, papel antes praticamente restrito à iniciativa privada. A fragilidade ou a inexistência desta intervenção - de forma proposital (ou não) - resultou na ocupação humana de áreas impróprias ou distantes dos centros e de suas infraestruturas. Destacou-se que o problema da moradia envolve fundamentalmente o problema da terra. Sem terra em área urbanizada, com a adequada infraestrutura, dificilmente o Estado pode atender à demanda por moradia de interesse social”.
O Capítulo 3 “Movimentos sociais urbanos e a política nacional de habitação” busca reconhecer e resgatar a construção de dois significativos movimentos sociais no Brasil, o movimento de moradia e o movimento de reforma urbana, a partir justamente da carência histórica de moradia e de infraestrutura urbana para a população mais desprovida de condições materiais. Ao resgatar a origem destes movimentos, procurou-se identificar o papel estratégico que tiveram na construção da política nacional de habitação hoje em vigor e, particularmente, na política habitacional destinada à autogestão.
O Capítulo 4 “A produção autogestionária de habitação de interesse social” envolveu, primeiramente, o esforço de identificar o que vem sendo produzido no país, desde 2003, dentro do que vem sendo chamado de autogestão habitacional. Assim, mapeou-se os “empreendimentos” contratados pelos programas nacionais (Crédito Solidário, Ação de Apoio à Produção Social da Moradia e Programa Minha Casa Minha Vida Entidades), identificando-se sua vinculação com movimentos de moradia e reforma urbana organizados nacionalmente. Para este mapeamento, Regina Ferreira conta que foram realizadas duas visitas à Secretaria Nacional de Habitação, que gentilmente cedeu os dados sobre os empreendimentos contratados.
“Na direção de compreender o que é a autogestão no Brasil e as diversas concepções dos diferentes movimentos de moradia sobre o tema, realizei entrevistas com lideranças nacionais dos quatro movimentos organizados nacionalmente, envolvidos com os programas Crédito Solidário, Ação de Produção Social da Moradia e Minha Casa Minha Vida Entidades. Nestas entrevistas busquei identificar os objetivos pretendidos por cada movimento com a participação no programa, a metodologia utilizada por cada um para a constituição e seleção do grupo beneficiário, os processos de formação empreendidos; a existência ou não de um padrão de gestão da obra. Busquei também identificar os principais problemas que estas lideranças vêm identificando nos programas, qual a sua percepção dos resultados obtidos e, principalmente, sua avaliação sobre os mesmos, considerando o ideário que levou à reivindicação da autogestão na política habitacional pelos movimentos de moradia e reforma urbana”.
Regina afirma que o objetivo final do trabalho é poder resgatar parte da história recente sobre a política nacional de habitação de interesse social, vinculada a processos de autogestão nas cidades, bem como refletir sobre o rumo dos programas públicos de autogestão habitacional, conquistados pelos movimentos sociais urbanos.
“A ideologia da casa própria valorizou a concepção da casa como mercadoria: inserir-se num programa público de habitação é a possibilidade de fazer parte desta ideologia. Mas, além de constituir-se como uma mercadoria numa sociedade capitalista, a casa é um bem fundamental para a experiência de vida humana. O seu valor, pela sua natureza, é essencialmente um valor de uso ainda que tenha um valor de troca cuja centralidade na sociedade capitalista é inquestionável”, explica e completa:
“O acesso à moradia não garante, no entanto, necessariamente o acesso à cidade e a inclusão social. Não são poucos os exemplos de beneficiários de programas públicos de HIS que, em pouco tempo, passaram adiante sua propriedade, vindo a ocupar novamente áreas impróprias. Mudar esse quadro representa também mudar a realidade social dessas pessoas e as suas possibilidades de realização enquanto indivíduo, pertencente a uma coletividade”.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
RESUMO
FERREIRA, Regina F. C. F. Autogestão e Habitação: entre a utopia e o mercado. 2014. 219f. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e Regional) – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
Para acesso à tese "Autogestão e Habitação: entre a utopia e o mercado", acesse:http://objdig.ufrj.br/42/teses/818065.pdf
Para contato com a autora, segue o endereço: reginafatimaferreira@gmail.com
Leia também:
O impasse da política urbana no Brasil | Ermínia Maricato
Fonte: http://www.observatoriodasmetropoles.net/index.php?option=com_k2&view=item&id=1012%3Aautogest%C3%A3o-habitacional-entre-a-utopia-e-o-mercado&Itemid=169&lang=en

quarta-feira, 1 de outubro de 2014


RESUMINDO O ILUMINISMO

PELA RAZÃO, PELA CIÊNCIA E PELA LIBERDADE

O Iluminismo

O Iluminismo foi uma revolução intelectual que aconteceu na Europa, especialmente na França, no século XVIII (século das Luzes) e que teve como base o antropocentrismo e o individualismo renascentistas, separando qualquer pensamento das idéias da Igreja.
O movimento favoreceu a burguesia, esta que procurava explicações racionais para todas as coisas (para ela, só assim o homem alcançaria o conhecimento, a liberdade, a convivência harmoniosa com o próximo e a felicidade).
Como iniciador do racionalismo, o iluminismo teve René Descartes, com sua famosa frase “Penso, logo existo!”. Para representar o liberalismo, o inglês John Locke e na prática científica, Isaac Newton. Todos estudiosos de seus próprios conceitos.
O Iluminismo aconteceu durante o período absolutista e começou com a contraposição das intervenções do estado sobre a economia, situação que muito atrapalhava a burguesia. Os Iluministas propunham a reorganização da sociedade no sentido de garantir ao homem a tão estimada liberdade.
Além disso, vinha lutar contra os resquícios feudais, como a permanência da servidão, contra a influência da Igreja católica, principalmente na educação e na cultura e contra a desigualdade de direitos e deveres entre as classes sociais.
Os Iluministas franceses que se destacaram foram: Barão de Montesquieu, que pregava a necessidade dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário); Voltaire, que foi o mais importante deles, criticava os privilégios da nobreza e do clero e colaborou com a criação da enciclopédia (forma de divulgação do movimento). Este influenciou muitos teóricos e governantes europeus, os chamados déspotas esclarecidos; e, por fim, Jean-Jacques Rousseau, o mais radical de sua época, defendia as classes populares, a soberania do povo e era contra a “lei do mais forte”. Os homens deveriam consentir em fazer um Contrato Social se submetendo à lei de seu soberano (o próprio povo) e o governo seria apenas o ministro, tendo seu poder modificado sempre que o povo desejasse. Rousseau se destacou por não se preocupar somente com a razão, mas também com os sentimentos e emoções, valorizando a simplicidade da vida.
No setor da economia, a frança do século XVIII teve grande influência da fisiocracia. Ela combatia as práticas mercantilistas e defendia o individualismo econômico baseado no “governo da natureza”, onde a agricultura era o principal produtor de riquezas. Para os fisiocratas, o governo era um mal necessário, deveria proteger os bens e as pessoas, mas sempre com o consentimento destas. Os economistas fisiocratas tiveram forte influência sobre o liberalismo econômico.
liberalismo econômico teve seus conceitos enraizados pelo escocês Adam Smith, que acreditava na economia como ciência autônoma, com leis e princípios próprios. Defendia a liberdade de concorrência e negava ao estado o direito de intervenção na economia, seu papel seria o de incentivador.
O Iluminismo com todos os seus conceitos modernos e racionalistas geraram o despotismo esclarecido. Alguns monarcas, com objetivo de estabelecer reformas e modernizar seus países, adotaram os princípios iluministas, sem abrir mão do absolutismo, não se identificando mais com o próprio estado. Tentavam conciliar sua autoridade absoluta com a liberdade do iluminista sem permitir a participação da burguesia no setor econômico. Enfim, é claro que isso não deu certo. O despotismo esclarecido durou até 1789, quando se iniciou a Revolução Francesa.
Como conseqüências, o Iluminismo teve as mudanças nas questões jurídicas, principalmente com a garantia legal dos direitos e deveres do cidadão; o aparecimento do despotismo esclarecido; o desenvolvimento da ciência, da cultura e da educação na Europa; a limitação do poder político da Igreja; e a criação das bases ideológicas para a Revolução Francesa, em 1789.
O Iluminismo veio também a influenciar os Estados Unidos, despertando a consciência e o movimento de emancipação colonial de 1776.

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/resumindo-o-iluminismo/

Lendo Arquitetura:

Custa por volta de R$60,00, mas também se consegue encontrar edições antigas nos sebos por um preço menor.
MANUAL DO ARQUITETO DESCALÇO – JOHAN VAN LENGEN
Esse é praticamente completo. Ensina noções de desenho e de representação gráfica bem básica até sugestões de aplicação em projetos, para o aluno de arquitetura comprar no começo do curso e usar como fonte de consulta primária.
Possui textos concisos, com ilustrações que complementam o entendimento.
Seu preço varia, conforme as promoções de R$80,00 a R$100,00.
A CONCEPÇÃO ESTRUTURAL E A ARQUITETURA – YOPANAN REBELLO
Por volta de R$60,00.
HISTÓRIA DA ARTE – E.H. GOMBRICH
Custa por volta de R$100,00.

AS ANTIGAS CIDADES DO FUTURO

Antigas Cidades do Futuro
ANTIGAS CIDADES DO FUTURO
Imaginar ou tentar prever o futuro foram ações recorrentes ao longo de toda a história humana. Com a arquitetura e o urbanismo, é claro, não seria diferente, especialmente numa época tão cheia de incertezas e inovações quanto foi o século passado. Vários arquitetos, engenheiros e cineastas tentaram, cada uma a sua maneira, descrever a cidade do futuro. Alguns erraram comicamente, enquanto outros acertaram em cheio.
Antonio Sant’Elia foi um dos que acertou: apesar da composição estranha e da escala monumental, seus croquis muitíssimo expressivos mostram edifícios com muitos andares, escadas-rolantes e elevadores, coisa que pro final do século 19 e início do século 20 ainda era um delírio. Lamentavelmente, seus projetos jamais chegaram a ser construídos, tendo no máximo servido de inspiração para a ambientação de alguns filmes futuristas.
Croquis de Antonio Sant’elia.

Por falar em filme, o cinema também teve seu momento cartomante sobre como as grandes cidades atualmente seriam. Fritz Lang, com seu Metrópolis (1926), retrata uma cidade grandiosamente construída, uma vez que no futuro apenas a elite habitaria a superfície, enquanto os pobres trabalhariam no subsolo. Já Fantasias (Just Imagine – 1930), de David Butler, se passa em 1980 – cinquenta anos no futuro – e tem uma pegada mais leve: é um musical repleto de clichês cômicos, com carros voadores, pílulas substituindo comida, nomes substituídos por números e bebês nascendo de máquinas.
As cidades de ambos os filmes, entretanto, dividem algo de semelhante: avenidas exclusivas para carros, edifícios enormes, uso intenso do espaço aéreo. Veja:
À esquerda, Metrópolis; à direita, Fantasias.

Le Corbusier, um dos grandes arquitetos do século 20, também chegou a planejar sua cidade do futuro. Para ele, o centro histórico de Paris, assim como todas as outras grandes cidades, era incompatível com as necessidades modernas, e precisava urgentemente ser demolido para, em seu lugar, serem construídas 18 torres gigantestas, com capacidade para até 40.000 habitantes. Com a hiperpopulação da cidade aliviada, grande parte do espaço urbano poderia ser verde, com espaços de lazer à porta dos edifícios. Este esquema também separaria o tráfego de automóveis do tráfego de pedestres, criando vias expressas que evitariam congestionamento e sinais de trânsito. Subúrbios seriam eliminados e as áreas residenciais nunca mais seriam perturbadas pelo barulho e poluição de fábricas.
A nova Paris, feita para todos, como dizia Le Corbusier, entretanto, jamais foi construída (ufa!).
A Paris do mundo moderno, para Le Corbusier

Agora, se a ideia de colocar 40.000 pessoas num único edifício já soa absurda, espere até conhecer a cidade do futuro de Paolo Soleri.
Paolo Soleri, que já estudou com Frank Lloyd Wright, desenvolveu o conceito de “arquilogia”, onde haveria cidades que pudessem comportar tantas pessoas quanto possível numa área relativamente pequena, poupando espaço para a natureza reinar, mas sendo tudo muito bonito e muito (muito!) grande. Algumas idealizações dele são tão grandiosas que, para serem construídas, seria preciso inventar materiais mais resistentes que os existentes hoje!
Babel: comportaria até 550.000 habitantes. Cuiabá inteira caberia aí dentro.
O ícone do prédio representa o Empire State Building, em escala.

Hoje, “no futuro”, notamos que pouco do que foi sugerido tornou-se realidade de fato, e talvez fiquemos tentados a achar que idealizar uma cidade avançada seja algo utópico e ultrapassado. Mas idealizações desse tipo continuam sendo feitas, e hoje imagina-se as cidades do futuro mais ou menos assim:
Eco-cidade, de Vivent Callebaut.
Arquitetura e design juntos por uma cidade sem poluição, de Mitchell Joaquim
Technopolis, de Jean Philippe Zoppini

E se você acha que isso é coisa ficção científica, saiba que já há uma “cidade do futuro” sendo construída na Coreia do Sul. Veja mais clicando aqui

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/as-antigas-cidades-do-futuro/

CIDADE E UTOPIA.

Cidade e Utopia
CIDADE E UTOPIA
   Utopia tem como significado mais comum a idéia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro, quanto no presente, porém em um paralelo. A palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos οὐ, “não” e τόπος, “lugar”, portanto, o “não-lugar” ou “lugar que não existe”.
Utopia é um termo inventado por Thomas Morus que serviu de título a uma de suas obras escritas em latim por volta de 1516. Segundo a versão de vários historiadores, Morus se fascinou pelas narrações extraordinárias de Américo Vespucio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503. Morus decidiu então escrever sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita.
O “utopismo” consiste na idéia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa e normalmente contrária ao mundo real. O utopismo é um modo absurdamente otimista de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem.
Contexto da ÉpocaLondres Sec. XIX   A cidade ainda possuia estrutura urbana medieval, com ruas pequenas e região portuaria tumultuada com bairros operários superlotados. A atividade econômica estava em decadência e a população vivia em péssimas condições de vida.
Ruas de Londres no final do XIX
Paris Sec. XIX   Paris possuía problemas semelhantes aos de Londres.
A Gênese do Urbanismo: Crítica a cidade industrial.  Essa ideia de utopia surge com a decadência do Papel do cristianismo e faz uma crítica a sociedade industrial, mostrando os efeitos negativos causados por ela, como por exemplo: Escassez do solo, divisão do trabalho, degradação do homem, etc. As cidades utopicas deveriam  ser socialmente sustentaveis e contar com soluções espaciais alternativas a metropole.
Nesta época florescem uma série de tentativas para solucionar problemas como os enfrentados por Londres e Paris. Socialmente, leis trabalistas são revisadas, surge as leis sanitáristas e novos modelos urbanisticos são formulados.
Fanlanstério/ Falanges – Charles Fourier – 1843
   “O Falanstério era como uma cidade construída no campo”. Para Charles Fourier as fábricas deveriam ser transferidas para o campo e uma comunidade deveria ser construída próxima a elas para os operários, surge assim o falanstério. O edifício continha todas as necessidades de um operário. Foi construído com uma tipologia clássica e possuía uma ala central e duas laterais (direita e esquerda). Em todo o prédio existiam circulação e jardins internos.
Ao mesmo tempo urbanos e rurais, os falanstérios seriam auto-suficientes trocando bens entre si, dispondo de terras para agricultura e outras atividades econômicas, para vivendas e uma grande casa comum. Segundo Fourier os falanstérios seriam criados através da associação voluntária de seus membros e nunca deveriam ser compostos por mais de 1.600 pessoas, que viveriam juntas em um mesmo complexo edificado. Cada pessoa seria livre para escolher seu trabalho, e o poderia mudar quando assim desejasse. Uma rede extensa desses falanstérios seria a base da transformação social que por meio da experimentação daria origem a um novo mundo.
O falanstério era organizado de forma que os idosos ficavam no térreo, as crianças no mezanino e os adultos nos andares superiores separados por classe social.
Familistério – Jean Baptista Godin – 1850
   O Familistério de Godin foi uma tentativa de aplicação das teorias socialistas utópicas, em Guise, no norte da França, inspirado nos falanstérios propostos por Charles Fourier na sua obra “A harmonia universal e o falanstério”.
Com a intenção de concretizar suas idéias sócio-políticas, Jean-Baptiste Godin decidiu comprar, em 1859, 18 hectares de um terreno onde mandou construir um complexo arquitetônico de habitações para operários. A luminosidade dos apartamentos, a circulação do ar, o acesso a água potável em cada piso, são todos elementos fundamentais que eram garantidos pela arquitetura própria dos edifícios. O cuidado com o corpo era igualmente assegurado pela criação de uma lavanderia, situada perto do curso de água, na qual se lava e seca a roupa (evitando assim os odores da umidade nos alojamentos), havia chuveiros e uma piscina (com uma prancha móvel, para permitir às crianças nadar em total segurança) onde a água, proveniente da fábrica próxima, chega em perfeita temperatura.
Finalmente, Godin põe em prática todo um sistema de proteção social criando caixas de segurança que protegiam contra as doenças, os acidentes laborais e asseguravam uma reforma aos 60 anos. À medida que o projeto  foi se consolidando, ficou conhecido como Palácio Social.
Gerido de uma perspectiva empresarial, ainda que segundo um espírito comunitário (de acordo com as teorias sociais de Saint-Simon e Owen, além do já referido Fourier), o familistério durou até 1968, o que o torna um exemplo de sucesso.
Interior do Familistério
Vila Operaria – Robert Owen
   Socialista ao extremo, no limiar do século XIX, mais precisamente em 1797, Owen visitou pela primeira vez New Lanark, quando disse: “De todos os lugares que vi, preferi esse para experimentar uma idéia que tenho há muito tempo.”
New Lanark era a maior fábrica de fiação de algodão do Reino Unido, nessa época. Owen, então, assumiu a presidência e encontrou uma sociedade deplorável. O reflexo dessa situação estava nas condições de trabalho e de vida de grande parte dos trabalhadores.
Homens, mulheres e crianças, muitas com não mais que cinco e seis anos trabalhavam até 14 horas por dia, seis dias por semana, ganhando salários miseráveis e vivendo em condições quase subumanas. Sem nenhuma atenção para a higiene, a proliferação de inúmeras doenças era favorecida.
Para o socialista Owen, essa era uma situação que não poderia continuar. Considerava que os administradores deveriam assumir o papel de reformadores.
Para dar o exemplo construiu, em Lanark, casas melhores para seus empregados, manteve as ruas limpas, construiu uma escola e ainda montou, em sua empresa, um armazém onde as mercadorias poderiam ser adquiridas a um preço mais justo. Reduziu a jornada de trabalho para dez horas diárias, proibiu a agressão a crianças e recusou-se a contratá-las com idade inferior a dez anos.
Acreditava em contradição a seus colegas empresários, que o melhor investimento estava nos trabalhadores ou “máquinas vitais” como ele os denominava.
Não só melhorou as condições de trabalho em sua fábrica, como também introduziu o que chamamos hoje de “Avaliação de desempenho”. Owen conseguiu uma arrumação ordenada dos trabalhos em sua fábrica.
Cidade Jardim – Hebenezer Howard – 1898   Howard em seus estudos, perguntou-se “Para onde as pessoas irão?”, então considerou três imãs de atração da população, a cidade inchada , o campo vazio, e a cidade-campo, que seria a terceira solução.
Diagrama que mostra os três imãs.
   Ele propõe muito mais do que a harmonia entre homem e natureza, ele apresenta toda uma política para a manutenção do equilíbrio social, ameaçado pelas sórdidas condições de urbanização das camadas populares inglesas durante o século XIX. Planeja não só as formas, as funções, os meios financeiros e administrativos de uma cidade ideal, sadia e bela, mas, principalmente, um processo para satisfazer as massas e controlar sua concentração nos centros metropolitanos. A cidade-Jardim seria construída no centro dos 2400 hectares, e ocupando 400 hectares, o resto seria para o campo, cortada por seis bulevares com 36 metros,uma avenida central com 125 metros de largura, formando um parque. No centro ficariam órgãos públicos e para o lazer (teatro, museu e etc..), o Palácio de Cristal, ocuparia uma grande área servindo como mercado e jardim de inverno, proporcionando aos ingleses durante o longicuo período chuvoso um lugar para recreação. A população seria de cerca de 30000 pessoas, sendo 2000 no campo, as industrias ficariam na periferia ao longo da linha férrea, facilitando o escoamento da produção, a área agrícola seria constituídas por fazendas , cooperativas ou particular. Na cidade jardim, o solo urbano é socializado e o lucro obtido pelo loteador vem das cotas pagas mensalmente, ninguém se torna proprietário de sua casa, loja, indústria, isso se da pelo arrendamento.
   Primeiramente Howard pensou como tornaria sua idéia viável, então em 1899 funda a Associação das Garden-Cities, e logo em 1903 pode adquirir Letchworth, e chamou os arquitetos Parker e Umwin para projetar a cidade , esta cidade atingiu grande êxito, e chamou atenção dos jornais de Londres. A atmosfera na cidade era excitante e prazerosa (alcançou em 1962 26000 habitantes). Em 1919 Howard achou um terreno a 15 Km de Letchworth, onde instalaria Welwin, a segunda cidade-jardim. Hermann Muthesius também teve um papel importante na criação da primeira cidade-jardim Alemã – Hellerau, próximo a Dresden, que foi fundada em 1909 por Karl Schmidt-Hellerau – a única cidade da Alemanha onde as idéias de Howard foram completamente implementadas.
Letchworth
Letchworth
Cidade Linear – Soraya y Mata
A cidade linear é um modelo concebido pelo urbanista espanhol Arturo Soria y Mata em fins do seculo XIX, construída como bairro experimental na perifería de Madrid, Espanha, em 1894. A noção de cidade linear foi utilizada no modernismo a partir do final da década de 20 por alguns urbanistas como Nicolai Miliutin, Le Corbusier, Ernst May, Lúcio costa, Kenzo Tange, entre outros.
A cidade linear tem como característica mais marcante o desenvolvimento em linha, geralmente com uma via central que funciona como estrutura principal, em torno da qual se desenvolvem ramos secundários. A interpretação da cidade linear varia segundo cada um dos autores. Para Miliutin ela estava ligada ao sistema de produção industrial, Le Corbusier a utiliza para atingir maior liberdade formal e de igual maneira trabalhar livremente o sistema viário dentro de sua proposta de hierarquía viária apresentada tambem em “Sur Les Quatre Routes” (‘Sobre as 4 Vias’). Ernst May desenvolve a relação cidade/indústria proposta por Miliutin no seu projeto para a cidade soviética de Magnitogorsk. No pós-guerra Lúcio Costa adota o partido linear no desenvolvimento do plano piloto de Brasília e, também em 1960, Kenzo Tange apresenta um plano monumental de cidade sobre a baía de Tóquio. Lúcio Costa utilizará novamente o partido linear como um dos elementos do seu plano para a Barra da Tijuca no Rio de Janeiro.
A cidade linear está ligada em muitos aspectos à questão do transporte, por este motivo da crescente importância ao sistema viário no planejamento da cidade. Em sua concepção inicial, com Soria y Mata, esteve ligada ao movimento higienista e de igual maneira à questão dos bairros operários . Desde a década de 1880, Soria y Mata acreditava que sua cidade poderia se estender pelo território se ligando a outras e até a diferentes países, em uma grande rede urbana. Este fenômeno não está longe da realidade dos nossos dias. Através de sistemas de transporte super-rápidos (como o trêm-bala), cidades são interligadas em poucas horas no Japão e em alguns países da Europa.
Cidade Industrial – Tony Garnier – 1901/1904
   A cidade industrial de Tony Garnier foi criada em 1901 e exposta em 1904, esse projeto de planejamento urbano era a planificação do que deveria ser uma cidade moderna. Projetada para 35000 habitantes, a cidade industrial antecipava alguns princípios da Carta de Atenas do CIAM de 1933.
Plano da Cidade Industrial
A proposta era, sobretudo de uma cidade socialista sem muros ou propriedade privada, onde todas as áreas não construídas eram parques públicos.
O plano linear de Garnier separava as zonas: existiria o agrupamento racional da indústria, da administração e das residências, além da exclusão dos pátios internos e estreitos, criando uma quantidade suficiente de espaços verdes na cidade. Além dessas características no planejamento urbano, havia também o uso do novo material, o concreto armado, que era a potencialidade estética do século XX.
Para o estudo da cidade industrial foi escolhida a região Sudeste da França. Essa área foi determinada depois de concluído que ela era bem localizada e teria suas necessidades sanadas por soluções próximas. Alguns fatores que levaram a essa escolha foram: a presença de matéria-prima, a força natural que pode ser usado pelo homem (um leito da torrente represado) e a comodidade dos meios de transporte devido a uma estrada de ferro próxima à área.
Para dispor as construções na cidade buscou-se levar em conta as necessidades materiais e morais do indivíduo, então se criou regulamentos para manter a qualidade de vida humana. As divisões da casa deveriam corresponder aos regulamentos e cada habitação deveria dar acesso para a construção localizada atrás, criando um passeio público que permitiria o acesso em qualquer sentido desejado dentro da cidade.
Bairro da Cidade
   Utópia: sonho x realidade   A revisão das várias utopias urbanas que filósofos, socialistas, arquitetos e urbanistas procuraram desenvolver pra melhorar as condições de vida dos moradores neste planeta, raras vezes encontraram sua realização. Na maioria das vezes o modelo utópico permaneceu uma virtualidade, sem chance de impor-se na realidade. Outras vezes, a utopia reverteu-se em seu contrário, perverteu-se. Longe de realizar um sonho intensamente desejado pela maioria dos seres humanos, transformou-se em um pesadelo.
Outras utopias foram parcialmente realizadas, um exemplo são as comentadas anteriormente, como foi o caso do familistério de Godin, que concretizou o modelo utópico do falanstério de Charles Fourier. Mas via de regra, o verdadeiro destino da utopia é a decomposição e fragmentação.
Longe de desanimarmos com a impossibilidade ou dificuldade de realização dos modelos utópicos, devemos mantê-los como princípios norteadores de nossas ações e esperanças, sem fraquejar, sem abandonar o objetivo. Um mundo sem utopias, seria um mundo entendiado, desanimado, morto.
“As utopias não são muitas vezes mais que verdades prematuras” (Lamartine)
“…e é isso que dá aos nossos sonhos a ousadia: eles podem ser realizados.” (Le Corbusier)

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/cidade-e-utopia-novos-modelos-sociais-e-espaciais/